Nesta segunda-feira, está previsto o início de uma nova campanha de vacinação no Brasil com os imunizantes contra a Covid-19. Para determinados grupos, será indicada uma nova dose de reforço com as versões adaptadas das vacinas, as chamadas bivalentes, que ampliam a proteção contra a variante Ômicron do novo coronavírus.
Já para a maior parte da população, os esforços serão concentrados em elevar a adesão à terceira e à quarta dose com os imunizantes originais, que já estão disponíveis nos postos de saúde, porém com a cobertura aquém do desejado.
Como desde que teve início, em 2021, a vacinação no país adaptou-se às novas evidências científicas sobre a duração da proteção e necessidade de doses adicionais, os esquemas vacinais podem provocar dúvidas. Por isso, o GLOBO conversou com a médica pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, e explica em detalhes os próximos passos da campanha no Brasil e qual é a indicação das autoridades sanitárias para cada caso.
1 – O que são as novas vacinas bivalentes?
As vacinas utilizadas desde 2021 são chamadas de monovalentes, pois foram feitas com apenas uma versão do novo coronavírus – a que foi identificada ainda no final de 2019. No entanto, como o Sars-CoV-2 evoluiu com o passar dos anos, os laboratórios Pfizer e Moderna desenvolveram novas formulações chamadas de bivalentes.
As novas formulações são baseadas em duas versões do vírus, metade com a mesma das doses anteriores, e a outra metade com material da Ômicron, variante que predomina hoje no mundo. Com isso, a proteção é ampliada.
— A bivalente é mais atualizada em relação às variantes que circulam no Brasil e no mundo, e tem como o principal objetivo agora dar uma proteção maior, que sabemos que se perde com o tempo e com novas cepas, contra óbitos e hospitalizações. Ela é uma dose de reforço, então as pessoas precisam ter recebido pelo menos duas doses da vacina original antes — explica Isabella Ballalai.
No Brasil, somente o imunizante adaptado da Pfizer tem aval da Anvisa como um reforço para maiores de 12 anos. Porém, a aplicação depende de recomendação e oferta do Ministério da Saúde, que indicou apenas a determinados grupos considerados de maior risco para agravamento da doença.
2 – Para quem está indicada a vacina bivalente?
No momento, a dose é orientada aos grupos prioritário. Ela pode tanto substituir a terceira ou a quarta dose daqueles que estão atrasados, como ser uma quinta para quem está com o esquema anterior em dia. O intervalo para a aplicação é de quatro meses após a última. O imunizante não será ofertado, ao menos por ora, para a população geral.
— Essa decisão foi compartilhada com o comitê técnico assessor em imunizações e é considerada adequada, é o que a maioria dos países fazem até agora. Para a população geral, que não faz parte dos grupos de risco, estar em dia com o esquema atual das vacinas originais já gera uma boa proteção. Não é necessário um reforço a mais além da terceira ou quarta dose já indicadas pelo ministério — diz Isabella.
Os grupos elegíveis para a bivalente, porém, não são os mesmos de etapas anteriores da vacinação contra a Covid-19. Pessoas com comorbidades, por exemplo, não estão contempladas. O mesmo em relação a profissionais da educação.
Confira a lista de quem poderá receber a dose bivalente:
- Pessoas com mais de 60 anos;
- Gestantes e puérperas;
- Pacientes imunocomprometidos;
- Pessoas com deficiência;
- Pessoas vivendo em Instituições de Longa Permanência (ILP);
- Povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas;
- Trabalhadores e trabalhadoras da saúde.
3 – Quando posso tomar a vacina bivalente?
No total, aqueles elegíveis para receber a bivalente totalizam 52 milhões de brasileiros, segundo estimativas do Ministério de Saúde. De acordo com o cronograma de entregas da Pfizer, 38 milhões de doses da vacina já foram enviadas ao Brasil, e mais 10 milhões devem chegar até junho.
A vacinação será escalonada em etapas, de acordo com o envio das doses aos estados e com o recebimento das novas levas pela Pfizer.
De acordo com a nota técnica do ministério, nessa primeira fase, que começa amanhã, a prioridade são pessoas a partir de 70 anos; pessoas vivendo em instituições de longa permanência (ILP) a partir de 12 anos (abrigados e os trabalhadores dessas instituições); imunossuprimidos e comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas;
Em seguida, na próxima etapa, serão incluídas pessoas de 60 a 69 anos de idade. Na terceira fase, gestantes e puérperas passarão a receber a dose bivalente. Por fim, nas fases 4 e 5, serão incluídos, respectivamente, os trabalhadores de saúde e as pessoas com deficiência permanente.
O ministério divulgou apenas que a campanha começará amanhã, porém não anunciou as datas exatas para as demais etapas. Mas, como estados e cidades podem implementar seus próprios calendários, é importante checar as datas e os grupos divulgados pelas secretarias estaduais e municipais.
4 – A população geral receberá a dose bivalente?
Em alguns países, como Chile e Estados Unidos, a bivalente é indicada à população geral. Porém, não há planos para que pessoas de fora dos grupos de risco, como as abaixo de 60 anos, recebam indicação para a nova dose da vacina no Brasil
Ainda assim, a população geral também é alvo da nova campanha do Ministério da Saúde devido às baixas coberturas com a terceira e a quarta dose, de modo a chamar os atrasados para os postos de saúde. Segundo dados da Rede Nacional de Dados de Saúde (RNDS), compilados pela pasta, são cerca de 60 milhões de brasileiros sem o primeiro reforço.
O ministério indica o esquema de três aplicações para todos com mais de seis meses de idade, ou seja, também crianças e adolescentes. Já a quarta dose é para aqueles a partir de 40 anos. Em muitos estados e municípios, esse segundo reforço é ampliado para todos com mais de 18 anos, o que não tem contraindicação, embora os benefícios sejam limitados.
— Essas pessoas que não vão receber a bivalente, como crianças, jovens e a maior parte dos adultos, precisam estar com os reforços previstos para cada faixa etária atualizados. Hoje mais de 90% das pessoas que morrem são as que não estão adequadamente vacinadas com todas as doses indicadas do imunizante original — explica a diretora da SBIm.
Ela lembra que, além dos esquemas citados acima, os imunossuprimidos devem receber uma dose adicional, mas que poderá ser feita a partir do dia 27 com a bivalente para os atrasados, o que é preferencial.
5 – Terá quinta dose para a população geral da vacina monovalente?
Por mais que a bivalente não esteja nos planos atuais do governo para as pessoas de fora do grupo de risco, há também a dúvida se será indicada uma nova dose – que para a maioria das pessoas seria a quinta – do imunizante original. Isabella afirma que isso é alvo de debate, mas ainda não foi decidido.
— Em algum momento pode acontecer sim. Mas em relação à possibilidade de uma vacinação anual, como a da gripe, ainda precisamos acompanhar mais a evolução do vírus da Covid-19 para entender — diz.
6 – Estou com a dose atrasada, o que fazer?
Com tantos esquemas diferentes, muitas pessoas podem estar com a terceira ou a quarta dose atrasadas. Isabella, da SBIm, explica que aqueles dos grupos de risco que poderão receber a vacina bivalente devem aguardar a dose chegar ao posto de saúde, mas os demais devem atualizar imediatamente a caderneta.
— Quem faz parte dos grupos de risco que estão elegíveis para receber a dose bivalente por agora, e está com a terceira ou a quarta dose atrasada, deve aguardar um pouco para receber diretamente a bivalente. No entanto, os que não fazem parte desses grupos, e estão com dose atrasada, devem atualizar o esquema com a vacina disponível o quanto antes — orienta.