A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou neste domingo que os riscos à estabilidade financeira aumentaram e que é necessário uma vigilância contínua após a recente turbulência do setor bancário, embora as ações tomadas pela economias avançadas tenham acalmado o estresse do mercado.
– Está claro que os riscos para a estabilidade financeira aumentaram – disse a chefe do FMI, ao participar de um fórum sobre o desenvolvimento da China, evento organizado em Pequim pelo governo chinês.
E acrescentou:
– Em um momento de níveis de endividamento mais altos, a rápida transição de um período prolongado de taxas de juros baixas para taxas muito mais altas – necessárias para combater a inflação – inevitavelmente gera tensões e vulnerabilidades, como evidenciado pelos desenvolvimentos recentes no setor bancário em algumas economias avançadas.
A falência do banco californiano Silicon Valley Bank (SVB) no último dia 10 gerou uma onda de preocupação no setor bancário nos Estados Unidos e na Europa, que incluiu entre seus efeitos a venda apressada do Credit Suisse a seu rival UBS na semana passada, movimentando o mercado financeiro.
Na sexta-feira, as ações de bancos voltaram a cair, desta vez lideradas pelo Deutsche Bank, forçando o chanceler alemão Olaf Scholz a insistir que “não há razão para se preocupar” com a instituição.
2023, outro ano desafiador
Kristalina Georgieva reiterou sua visão de que 2023 seria outro ano desafiador, com o crescimento global desacelerando para menos de 3% devido às cicatrizes da pandemia, a guerra na Ucrânia e o aperto monetário pesando sobre a atividade econômica.
– Mesmo com uma perspectiva melhor para 2024, o crescimento global permanecerá bem abaixo de sua média histórica de 3,8%. Juntos, esses fatores significam que as perspectivas para a economia global no médio prazo provavelmente permanecerão fracas – ressaltou.
Em janeiro, o FMI previu que o crescimento global diminuiria de 3,4% no ano passado para 2,9% em 2023, depois subiria para 3,1% em 2024. O Fundo deve divulgar novas previsões em seu Relatório de Perspectivas Econômicas Mundiais e Estabilidade Financeira Global, a ser publicado nas próximas semanas.
Georgieva disse ainda que os formuladores de políticas agiram de forma decisiva em resposta aos riscos de estabilidade financeira após o colapso dos bancos, e os bancos centrais das economias avançadas melhoraram o acesso à liquidez em dólares. Segundo argumentou, essas ações aliviaram o estresse do mercado até certo ponto, mas a incerteza ainda é alta, ”o que ressalta a necessidade de vigilância”.
A diretora-gerente do Fundo também ecoou as advertências feitas por vários outros palestrantes na conferência sobre os perigos da fragmentação mundial em blocos econômicos, dizendo que esta seria “uma divisão perigosa que deixará todos mais pobres e menos seguros”.
Boas perspectivas da China
O chefe do Fundo Monetário Internacional fez uma nota positiva sobre as perspectivas da China, descrevendo-a como um dos “brotos verdes” na economia mundial e instando as autoridades a reequilibrar a economia em direção ao consumo.
Kristalina Georgieva disse que a “forte recuperação” na economia da China é importante não apenas para si mesma, mas para o mundo:
– A recuperação robusta significa que a China deve responder por cerca de um terço do crescimento global em 2023 – dando um impulso bem-vindo à economia mundial.
A previsão de janeiro do FMI para a China coloca o crescimento do PIB em 5,2% este ano, um aumento de mais de dois pontos percentuais em relação à taxa de 2022, e impulsionado pela recuperação antecipada do consumo privado à medida que a economia reabre e a atividade se normaliza, disse ela, acrescentando:
– Com uma recuperação tão sólida, a China pode agora aproveitar o momento positivo e, por meio de políticas abrangentes, manter-se no caminho do crescimento rumo à convergência com as economias avançadas. Com informações de O Globo.