Quem for comprar um imóvel novo vai se deparar com preços maiores ao longo dos próximos meses, avisou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia. A situação reflete a escalada nos custos das obras, segundo ele.
“A situação vai gerar o repasse de custo maior para o preço dos imóveis. Quem for comprar a casa própria vai encontrar preços maiores. Não tem jeito, as empresas têm que preservar as margens (de lucro)”, disse Correia, em entrevista à imprensa após apresentação de dados do setor.
A economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, apontou uma tendência de alta nos custos de construção. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) já subiu 5,48% nos últimos 12 meses encerrados em setembro, enquanto a inflação oficial do País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), avançou 4,42% no mesmo período. “Ou seja, o custo de construção está acima da inflação do país”, enfatizou Vasconcelos.
Por que o setor está mais caro
O setor de construção está com uma demanda aquecida por mão de obra, mas tem faltado trabalhadores qualificados, o que gera uma elevação nos salários. Com isso, a componente ‘mão de obra’ dentro do INCC subiu 7,7% nos últimos 12 meses, pressionando os custos setoriais.
Além disso, os custos dos materiais de construção voltaram a subir nos últimos meses, configurando uma tendência de alta, apontou Vasconcelos. Ao longo de 2023, os materiais vinham mostrando deflação, mas essa tendência se reverteu. Os itens passaram a subir rapidamente desde março, chegando a 3,89% nos últimos 12 meses. “O custo com material vem registrando aceleração e volta a preocupar o setor construtor”, disse a economista.
Dificuldade de fazer o repasse
O presidente da CBIC alertou que há incorporadoras com dificuldade de encaminhar o cliente para o financiamento bancário no momento de entrega das chaves do imóvel vendido na planta. A situação, segundo ele, decorre, da elevação dos juros no País e da falta de recursos para abastecer os financiamentos. “Tem muito empreendimento com dificuldade de fazer o repasse”, disse Correia.
Diante dessa situação, o presidente da CBIC reiterou o pleito para que ocorra a liberação dos depósitos compulsórios dos bancos e o seu direcionamento para o crédito imobiliário. Essa medida serviria para amenizar a situação de aperto até um momento mais favorável nos próximos, quando há expectativa de uma possível redução dos juros.
A proposta consiste na redução de 5% no compulsório bancário com o objetivo de direcionar o dinheiro para os financiamentos de imóveis. Essa sugestão foi encaminhada para a autoridade monetária no início de 2023 pelos representantes do setor da construção, entre eles Abrainc, CBIC, Secovi e Sinduscon. Ao longo do ano, os bancos aderiram, sob liderança da Abecip.
O Banco Central (BC), entretanto, não tem indicado apoio. “O BC entende que não é um remédio definitivo”, comentou Correia.
Por trás dessa movimentação está a preocupação com os juros altos do crédito imobiliário, que inibem lançamentos e vendas. Uma das razões para isso é o encarecimento das fontes de recursos que os bancos usam para conceder empréstimos.
Os últimos anos foram marcados por perda de recursos das cadernetas de poupança — fonte de recursos com menor custo para o crédito — e a necessidade de utilização de outras fontes de mercado pelos bancos, geralmente atreladas ao CDI.