Principal alvo de ataques dos deputados que votaram contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) votou pelo impedimento da petista. “Que Deus tenha misericórdia dessa nação”, afirmou em seu breve discurso. Cunha foi vaiado quando teve o seu nome anunciado, mas aplaudido após declarar seu voto.
“Senhor Eduardo Cunha, o senhor é um gangster. O que dá sustentação a sua cadeira cheira a enxofre”, bradou o deputado Glauber Braga (Psol-RJ). “Nunca vi uma hipocrisia como essa”, disse a deputada Professora Marcivânia PC do B-AP), que criticou as várias manifestações anti-corrupção que não citaram as acusações contra Eduardo Cunha. O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), afirmou que Cunha é um ladrão e o que o processo de impeachment é conduzido por “canalhas”.
Nos cerca de 10 segundos que cada um dos deputados que votaram tiveram, sobraram manifestações políticas contra o governo, mensagens a familiares, a eleitores e ao Estado. Do lado governista, a tônica foi a denúncia do “golpe” e ataques ao presidente da Câmara, réu no processo do petrolão. Quase nenhum deputado citou os crimes de responsabilidade atribuídos a Dilma no manejo do Orçamento federal.
“Tira Dilma, entra Temer. Tira Temer, entra Cunha. Que Brasil é esse?”, se inflamou César Messias (PSB-AC). “Não aceito o corrupto Eduardo Cunha presidir esse processo de impeachment. Ele é o primeiro que deveria ter sido impedido”, reforçou Ivan Valente (PSOL-SP), manifestação repetida por vários deputados, como José Airto Cirilo (PT-CE): “Vejam vocês, um réu no STF para fazer o impeachment de uma presidente honrada e inocente, isso não pode acontecer.”
O deputado Sílvio Costa (PT do B-PE) chegou a acusá-lo de chefiar o “PCC, o partido da corja do Cunha”. Daniel Almeida (PC do B-BA) foi em linha similar: “Estamos em uma situação surreal: uma presidente sobre a qual não pesa nenhuma acusação de malfeito ameaçada por uma conspirata de corruptos liderada por Vossa Excelência, o deputado Eduardo Cunha, que não dignifica a cadeira que ocupa agora”.
Único deputado a defender Cunha no microfone do plenário, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou que Cunha é um “nome que entrará para a história com a forma como conduziu os trabalhos”. “Parabéns presidente Eduardo Cunha”, disse. Durante a sua fala, ele foi vaiado por alguns deputados.
A sessão deste domingo começou às 14h e se desdobrou sob o impacto de manifestações de ruas contrárias e a favor da presidente –em Brasília e em várias cidades do país. As sessões anteriores de debate tiveram início às 8h55 de sexta-feira (15) e não pararam, totalizando falas que duraram 43 horas.Folhaonline