Centenas de estudantes reuniram-se, neste final de tarde de sábado (23), no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, para protestar contra o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que consideram um golpe. O número de manifestantes não foi informado pela Polícia Militar.
O ato foi convocado pela internet. Um dos organizadores é Rafael Reiter, que disse não pertencer a nenhum partido ou movimento social. “Participo de um grupo de universitários, apartidário, nada registrado, onde temos um projeto chamado Plantando Arte. Temos o intuito de fazer conscientização. Nós nos reunimos e montamos o evento e começamos a chamar todo mundo”, disse ele à Agência Brasil.
De acordo com Reiter, a intenção dos manifestantes é permanecer hoje no Vale do Anhangabaú, sem fazer caminhada. Ele dissse que o ato não se encerra hoje e que outras manifestações devem ser marcadas nos próximos dias, principalmente no dia da votação do processo da admissibilidade do processo no Senado.
Os estudantes dançam e cantam “Não vou deixar o golpe acontecer de novo, não” e “não vai ter golpe”. Muitos deles desenharam faixas pretas no rosto, que, segundo Reiter, simbilzam o “luto pela atual situação do país”. Um deles fantasiou-se de Dilma Rousseff, carregando a faixa presidencial. “Eu vou apoiar a Dilma. Calma, calma, burguesia”, cantam eles, em ritmo de marchinhas. Em um momento do ato, eles se deram as mãos, em um círculo, para cantar músicas de apoio à presidenta.
No ato, eles criticam também o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem chamam de “ladrão” e “ditador”. “Fora Cunha”, gritam os estudantes. Também houve críticas ao vice-presidente Michel Temer e ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), por sua postura na votação da admissibilidade do processo de impeachment, domingo passado (17) na Câmara. Ao votar, o deputado homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Ao proclamar o voto, Bolsonaro chamou Brilhante Ustra de “pavor de Dilma Rousseff”.
O protesto no Anhangabaú conta com o apoio e a presença de representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e de outros movimentos estudantis. “Este ato foi convocado por estudantes, pela internet, e a UNE decidiu apoiar o movimento. O ato vocaliza um pouco desse sentimento que está presente na juventude de uma injustiça muito grande que está acontecendo, o impeachment, com a desmoralização do Congresso Nacional no domingo, já que eles não são legítimos para convocar e conduzir o impeachment. Por isso, este impeachment é um golpe”, disse Carina Vitral, presidente da UNE, em entrevista à Agência Brasil.
Embora tenham manifestado, inicialmente, a intenção de permanecerem no Anhangabaú, de lá eles caminharam até a Avenida Paulista, no início da noite, e fizeram parada em frente à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde manifestantes de um grupo pró-impeachment estão acampados desde meados de março. O encontro deu-se, porém, de forma pacífica.