A visita do Papa Francisco a Fátima trouxe bons negócios para comerciantes, donos de hotéis, pousadas, restaurantes, cafés, bares,locadoras de veículos e fabricantes de produtos religiosos, como velas, imagens, terços e santinhos. Desde a quarta feira passada, 1 milhão de pessoas invadiu a pequena cidade do centro de Portugal, fundada em 1568 e com poucos mais de 11 mil habitantes, pertencente ao Concelho (semelhante a município no Brasil) de Ourém.
Sua denominação teria se originado no nome árabe Fãtimah. Segunda a lenda, seria o de uma princesa moura que, depois de ter sido aprisionada pelo Exército Cristão, durante a Reconquista, foi dada em casamento a um conde de Ourém. Como aceitou a religião Católica foi rebatizada como Oriana. O conde chamou Fátima às terras e Oriana à pequena localidade, depois batizada como Ourém, sua atual denominação.
Mas Fátima preparou-se para as comemorações do centenário das aparições aos três jovens pastores, na Cova da Iria, em 1917. Ao lado da cuidadosa organização do próprio Santuário de Fátima, há anos a cidade vem ampliando e reforçando sua infraestrutura hoteleira, viária, de alimentação, logística e de recursos humanos. Foram construídas novas vias de acesso, estacionamentos, enquanto as empresas fabricantes de produtos religiosos duplicaram a produção e as equipes.
Muitos visitantes vieram em caravanas-móveis, onde ficaram hospedados. Milhares acamparam, outras tantos se hospedaram em hotéis, pensões, pousadas, alugaram casas, apartamentos e quartos particulares, dormiram em seus carros ou se instalaram em cidades e vilas próximas a Fátima. Os preços da hospedagem e dos restaurantes triplicaram ou mais e, meses antes, já não havia mais local disponível, o que levou fiéis a irem e virem diariamente para Fátima.
Durante o dia e, à noite, após as cerimônias religiosas, quem não reservou com antecedência, não encontrou mesa para almoçar ou jantar. O santuário montou locais especiais para alimentação, com preço menor, e implantou numerosos banheiros químicos no entorno do Santuário, mas as filas eram imensas em todos os locais.
Apesar da chuva que não deu trégua, a cidade foi de festa durante toda a semana, com cafés, bares, restaurantes e lojas abertos, iluminados e repletos de clientes. O resultado foi um alto faturamento para os proprietários. Um dos produtos mais procurados pelos visitantes foi o rosário, em globo de vidro, feito por várias fábricas locais. Cada um custava cerca de 10 euros e esgotaram em pouco tempo. Com a procura, duplicaram de preço.
O trânsito fluiu tranqüilo, com raros pontos de estrangulamento. Foram milhares de policiais preparados para coordená-lo, muitos dos quais não conheciam bem a cidade e não conseguiam responder a perguntas sobre a localização dos principais pontos de atração dos festejos. A maioria revelou que viera de outras partes do país, daí não ser capaz de ajudar. Não foram registrados tumultos, brigas ou acidentes graves, o que tem sido uma das características nas cidades visitadas pelo Papa Francisco mundo afora.
Milhares de pessoas, de 55 diferentes países, participaram das comemorações, o que era visível devido à multiplicidade de bandeiras das nações na ampla Praça do Recinto do Santuário, incluindo as do Brasil. Brasileiros peregrinos de idades variadas se deslocaram a Fátima em sinal de devoção e de fé. Um grupo de 19 peregrinos veio de Fortaleza, seguindo depois para outra peregrinação, em direção a Santiago de Compostela.
Um casal de advogados, aparentando cerca de 70 anos, Luciano João Texeira Xavier e Antonia Xavier, veio do Paraná para pagar a promessa pela cura da mulher, que havia estado nove meses acamada. Simpático e animado, em pé e sem dormir há dois dias, na primeira fila dos peregrinos, Luciano confessou-se “maravilhado” com as comemorações do centenário de Fátima e não se cansou de elogiar a organização e simpatia dos portugueses.