Ser incoerente é uma coisa de que mais sabem fazer os políticos. Veja-se o caso do prefeito de Manaus, Arthur Neto. Arthur, na juventude, foi militante do PCB. Posteriormente foi filiado ao PMDB, PSB e ao PSDB, do qual foi um dos fundadores.
Candidatou-se a Deputado Federal em 1978 pelo MDB obtendo a 1ª suplência. Eleger-se-ia a este cargo na eleição seguinte, em 1982. Foi candidato a governador do Amazonas em 1986 pelo PSB, sendo derrotado por Amazonino Mendes. Pelo mesmo PSB foi eleito prefeito de Manaus em 1988, derrotando o ex-governador Gilberto Mestrinho.
Ainda no início do mandato, em 1989, migrou para o PSDB, partido que havia ajudado a fundar no ano anterior, do qual ainda é membro. Novamente deputado federal em 1994, seria reeleito em 1998. Foi um dos líderes do governo Fernando Henrique Cardoso na Câmara, ocupando o cargo de Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Eleito senador em 2002, tornou-se líder da bancada do PSDB no Senado em 2003. Como um dos lideres da oposição, foi um dos críticos mais firmes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi um dos principais protagonistas para a derrubada da CPMF.
Todavia, com todo esse curriculum, Arthur Neto hoje se deixa liderar por uma das figuras mais apagadas do Estado que, pelas asas da sorte, é o atual governador José Melo.
Tudo bem, alguém diria, “é que Arthur está sem opção”.
Mas em 2012 ele se tornou, pela segunda vez, prefeito de Manaus, enfrentando a tudo e a todos, inclusive José Melo e cia., capitaneados por Lula da Silva, que se tornou seu inimigo figadal, e não seria obrigado, se não quisesse, a fazer uma campanha tão assertiva em prol de Melo, a quem, ele próprio, já o tratara, em passado recente, como alguém “pequeno demais” para se abaixar mais ainda, isto quando Melo rendia-se aos pés de Amazonino.
Contudo, Arthur, por ter em Braga o adversário a ser batido – talvez mirando mais na frente o governo do Estado – parece que adota a máxima segundo a qual “quem é inimigo do meu inimigo, é meu amigo”.
Poder-se-ia, ainda, alegar que ele se lança à refrega eleitoral com tal ímpeto mas para assegurar a eleição de seu filho, Arthur Bisneto, à Câmara Federal. Pode ser verdade, mas isso não o torna mais coerente com sua própria história.
Os políticos fazem cálculos que muitas das vezes escapa à lógica de quem é um observador e analista mais descuidado, mas que é difícil a sua compreensão, ah, isso é.
O eleitor, coitado, fica confuso com tanta “flexibilidade” que os políticos apresentam. Poucos são os partidos que conseguem se apresentar aos eleitores como detentores de programas que os “encantem”, isso quando simplesmente não os compreendem.
Por isso, os eleitores preferem votar em pessoas, desde que lhes prometem aquilo que eles, os eleitores, desejam. Isso é um “prato cheio” para os marqueteiros de plantão, que acabam tendo uma influência indevida nos destinos do país.
Tudo sopesado, isso explica o quadro amorfo, insípido, inodoro que os partidos apresentam, bem como o embaralhamento de figuras tão díspares como Arthur e Melo.
Talvez eles se mereçam e a gente não saiba.