Adele brilhou no show especial em sua terra natal para celebrar seu novo álbum, 30. A cantora apresentou seus sucessos para um público seleto, que contou com a presença de celebridades e pessoas especiais, como sua professora do ensino médio, que sempre foi uma inspiração para ela, e conversou abertamente com o público, respondendo às perguntas e admitindo que perdeu bastante peso recentemente e que estava “c***ndo de medo” em relação à sua performance.
Ao responder a uma pergunta sobre quando sentiu orgulho de si mesma, ela disse ao público que isso aconteceu quando aceitou ser a atração principal do festival de Glastonbury, apesar do medo. Ela acrescentou: “Tive pavor porque sofro da Síndrome do Impostor.”
Pode ser difícil acreditar que a estrela global multimilionária sofra de sentimentos de inadequação, mas a “Síndrome do Impostor” pode afetar qualquer um.
A síndrome foi inicialmente reconhecida em mulheres, principalmente nas que desenvolvem atividades de alto desempenho. O termo foi usado pela primeira vez em 1978 para descrever o sentimento de algumas mulheres que estavam ingressando em profissões tradicionalmente dominadas por homens, como cientistas e bancários.
A expressão foi cunhada pelas psicólogas Suzanna Imes e Pauline Rose Clance, que detalharam os mecanismos de “enfrentamento” e “defesa” adotados pelas pessoas que sofrem da Síndrome do Impostor. Eles incluem excesso de preparação para reuniões e apresentações, procrastinação, medo de candidatar-se a promoções e vergonha de falar em reuniões. De acordo com especialistas em saúde mental, ela também está ligada ao perfeccionismo e pode causar estresse, ansiedade, baixa autoconfiança e baixa motivação.
O assunto tem sido abordado mais abertamente nos últimos anos com a valorização da saúde mental. Hoje em dia, pesquisas apontam que essa síndrome pode afetar qualquer pessoa, independentemente de sexo, condição social, nível de desenvolvimento de habilidades ou experiência.
De acordo com a Dra. Valerie Young, especialista internacionalmente reconhecida em síndrome do impostor e autora de “Os pensamentos secretos das mulheres de sucesso: Assuma os méritos de sua vida profissional e usufrua sem culpa de suas conquistas”:
“A síndrome do impostor descreve uma dificuldade em internalizar as conquistas ou habilidades de uma pessoa, atribuindo seu sucesso a outros fatores, como a sorte, a ocasião, ‘alguém me ajudou’, ‘eu tenho contatos'”, disse ela recentemente à empresa de recrutamento Stem Women.
“Às vezes alguém coloca na nossa cabeça a ideia de que só estamos aqui para preencher uma cota, por exemplo, ‘eles estavam procurando uma mulher para essa função’ ou ‘fui aceita para aumentar a diversidade racial’. Ao atribuir nosso sucesso a fatores externos, ficamos com medo de ser descobertos.”
A empresa de saúde BUPA explica que “sentir-se uma enganação ou uma fraude” é um dos sinais da síndrome, além de:
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nunca se sentir à altura
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sentir que não faz parte de algo
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duvidar de si
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sentir-se desconfortável com elogios
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ter o hábito de minimizar suas habilidades
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ter dificuldade de assumir o crédito por suas conquistas
Se todos esses sinais fazem soar um grande alerta para a imagem de um impostor, independentemente da qualidade do seu trabalho, o que você pode fazer para superar os sentimentos que estão atrapalhando ou impedindo que você reconheça que é uma pessoa de sucesso?
Olivia James é especialista em desempenho e confiança da Harley Street Coach. Ela disse ao Yahoo:
“A Síndrome do Impostor é caracterizada pelo sentimento de que mais cedo ou mais tarde você será ‘desmascarado’. De que você não merece a sua posição, seu emprego, elogios, prêmios e até mesmo o seu salário. Houve um grande engano. Basicamente, é um problema de autovalorização.”
Ela continua: “Quando ouvimos que uma celebridade bem-sucedida admite que se sente um impostor, há dois possíveis efeitos: podemos nos sentir melhor ao saber que até mesmo pessoas como Adele, Michelle Obama, Meryl Streep e o autor Neil Gaiman – personalidades que abordaram o assunto – às vezes sentem que seu sucesso aconteceu por acaso.”
“Mas também podemos nos sentir pior, pois, se eles se sentem dessa forma, que esperança temos nós, meros mortais?”
Ela acrescenta que às vezes pode ser difícil acreditar.
“Dependendo da celebridade, também pode soar totalmente inexplicável e como uma falsa vulnerabilidade, que está muito na moda.
“Pauline Clance, a psicóloga que cunhou a expressão, queria mudar o nome para Experiência do Impostor”, acrescenta James. “Ela disse, ‘se pudesse voltar atrás não chamaria de Síndrome do Impostor, porque não é uma síndrome, um complexo ou uma doença mental, é algo que quase todo mundo vivencia'”.
Olivia James concorda. “Chamar de síndrome é uma forma de tratar como uma patologia e parece definir como uma aflição permanente ou um ‘transtorno’, mas a maior parte das pessoas tem seu ‘momento de impostor’ ocasionalmente.”
Apesar da crença popular de que as mulheres são mais propensas a enfrentar a “Síndrome do Impostor”, acrescenta James, “é uma completa falácia a ideia de que as mulheres sofram mais com ela. A síndrome do impostor é uma experiência quase universal.”
“A quantidade de homens e mulheres com esse problema no meu consultório é equivalente. A questão é que é socialmente mais aceitável para as mulheres admitir que sofrem da Síndrome do Impostor. As mulheres tendem a admitir publicamente e em geral são responsabilizadas pela falta de igualdade de gênero, pela diferença salarial e pela falta de líderes mulheres em cargos de gestão. As mulheres deveriam ser mais ambiciosas e confiantes.”
“A realidade é bem mais complexa.”
Como lidar com a Síndrome do Impostor
Olivia James diz:
“Quanto mais nos estressamos, mais nossa mente fica fora de controle. Eu ensino a meus clientes técnicas para se acalmar e trabalhamos as causas da insegurança deles.”
“O segredo é saber se suas preocupações se baseiam em fatos.”
“É absolutamente verdade que as suas habilidades não condizem com o que seu cargo exige? É verdade que você não faz parte e que você é uma fraude?”
“A síndrome do impostor está tentando manter a sua segurança e evitar que você passe vergonha. O truque é saber se os seus sentimentos se baseiam em fatos. Quais são as suas habilidades, experiências e qualificações? Há uma grande diferença entre ficar nervoso e estar completamente fora de si.”
“O problema é que a ansiedade e a falta de autoconfiança geralmente não são racionais. Quando o sistema nervoso está em reação de luta ou fuga, as prioridades são a segurança e a sobrevivência.”
“Nesse estado de estresse agudo, a parte racional do cérebro não fica totalmente acessível. A maior parte do sangue vai para os órgãos vitais, braços e pernas, para auxiliar a luta ou a fuga em caso de ataque.”
“O segredo é acalmar a resposta do sistema nervoso e lembrar-se de que você sabe o que está fazendo e que faz parte daquilo.”