Dados do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) revelam que 118 novos casos de lesão corporal contra mulheres são registrados diariamente nas varas judiciais. Nos últimos seis anos, foram ajuizadas quase 260 mil ações por lesão corporal contra mulheres, foram registrados cerca de 195 mil casos de ameaças contra mulheres e mais de 120 mil medidas protetivas de urgência foram expedidas pela Justiça fluminense.
O Tribunal de Justiça participa da Semana da Justiça pela Paz em Casa, criada pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, visando julgar o maior número de crimes relacionados à violência doméstica e de gênero. “A finalidade é tirar esse tipo de violência de gênero, arraigado na sociedade brasileira, do anonimato, da invisibilidade e chamar a atenção da sociedade para esse tipo de delito que, por incrível que pareça, ainda cresce em pleno século 21”, disse hoje (6) o juiz auxiliar da presidência do TJRJ, Marcelo Oliveira.
Para Oliveira, o número elevado de lesões praticadas contra mulheres é muito preocupante. Isso ocorre, explicou, apesar do esforço empreendido pelo legislador, quando criou a Lei Maria da Penha, e pelo Judiciário na aplicação das leis, buscando as medidas protetivas e tipificando o crime de feminicídio. O caminho, para o juiz, é buscar uma política de educação e confrontamento desse problema social grave nos bancos escolares, “tentando fazer com que essa sociedade possa rever essa situação de uma forma mais concreta”.
O juiz não tem dúvida de que o problema de agressões às mulheres resulta da falta de educação da população. “A desigualdade socioeconômica muito latente no nosso país faz com que esses números sejam tão alarmantes”. Ele disse que esse problema não pode ser atrelado somente à desordem urbana e que, talvez, em função da concentração populacional, os números sejam mais elevados nos grandes centros urbanos. “Mas a violência de gênero acontece em qualquer situação, seja no campo, na cidade, porque ela está arraigada na cultura machista brasileira, por razões históricas”.
Oliveira disse que a campanha do STF visa tornar o problema mais visível. “Que haja esse engajamento da sociedade na solução desse problema tão grave que nos aflige”.
Defesa pessoal
A advogada Fabiana Soares Vieira pratica a arte marcial israelense krav maga há nove anos. O que a levou a procurar essa técnica de defesa pessoal foi a insegurança que sempre sentiu em determinadas situações. Como ela trabalha no centro do Rio de Janeiro, área muito com grande incidência de assaltos, acabou buscando uma arte marcial para se defender. “Um colega já fazia krav maga e acabei me interessando pela luta”.
Por duas vezes, Fabiana enfrentou situações de agressão na rua e venceu. Na primeira vez, Fabiana estava voltando para casa e uma pessoa tentou assaltá-la, colocando o cotovelo em suas costas e fingindo que estava armada. A advogada aplicou no agressor um golpe e se livrou da situação. A segunda vez ocorreu há cerca de um ano, quando tentaram arrancar-lhe a bolsa. “Eu também me livrei dessa situação”.
Neste mês de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, a Federação Sul Americana de Krav Maga (FSAKM) promove em mais de 100 cidades da América Latina, nos dias 11 e 12 , treinamentos gratuitos voltados para mulheres da defesa pessoal israelense, sejam praticantes ou não de exercícios físicos.
Já se inscreveram para os treinamentos mais de 10 mil mulheres, segundo o grão-mestre Kobi Lichtenstein, introdutor do krav maga no Brasil e fundador da FSAKM. Segundo ele, o número de mulheres que aderem ao treinamento é crescente. Há quatro anos, participaram quase 3 mil mulheres. Em 2016, foram 7 mil.
Lichtenstein disse que a ampliação de participantes mulheres tem “ligação direta com a falta de segurança que as pessoas, em especial as mulheres, sentem, na rua”. O krav maga foi criada pelo exército israelense como uma técnica de combate e de defesa pessoal para os soldados de Israel.
Fabiana recomenda às mulheres a modalidade de defesa pessoal, mesmo que não tenham nenhuma experiência. “Esse seminário que a federação está colocando é justamente para isso: para que as mulheres que nunca tiveram contato com esse tipo de arte marcial ou luta tenham esse primeiro contato e possam saber que elas conseguem se defender com golpes simples”. Segundo Fabiana, mesmo sendo menores e mais fracas, as mulheres não devem se sentir acuadas. “As mulheres não têm que ser vítimas. Elas têm que saber que podem e conseguem sair de situações de perigo”.