Os dois suspeitos da morte do vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas, 54 anos, afirmaram hoje (28), em depoimento à polícia, que estão arrependidos do crime e que agiram sob influência de álcool. Alípio Rogério Belo dos Santos, 26 anos, preso nesta quarta-feira, e Ricardo Martins do Nascimento, 21 anos, detido na noite de ontem (27), deixaram a Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), na estação Barra Funda do Metrô, por volta das 17h40 sob gritos de “assassinos” e “justiça”.
Uma multidão estava do lado de fora quando os dois suspeitos deixaram o local a caminho do Instituto Médico-Legal (IML), antes de serem levados para o 77º Distrito Policial, onde permanecerão presos pelo prazo de até 30 dias. O prazo pode ser prorrogado por 30 dias.
Para dispersar a multidão e impedir que os suspeitos fossem agredidos, a polícia fez um disparo de alarme. “Mesmo eles tendo cometido esse crime bárbaro, temos que preservar a integridade deles”, disse o delegado Rogério Marques, titular da Delpom.
Segundo o delegado, os presos tiveram que ser encaminhados para a Delpom, apesar de a unidade estar localizada dentro de um terminal rodoviário que integra metrô e ônibus e com grande aglomeração de pessoas, porque esta será a delegacia responsável pela investigação. “Se fosse feito em outro lugar, poderia gerar uma tese de defesa para os advogados dele”, disse Marques.
Os suspeitos contaram ao delegado a versão dos dois para os fatos ocorridos na noite de domingo (25). “[Eles disseram que] foram fazer xixi em um canto da praça [próximo à estação Pedro II, onde o crime ocorreu], e os moradores de rua que ali residem foram roubá-los. Houve uma luta corporal inicial e eles tentaram fugir. Eles caíram no chão, mas conseguiram focalizar um deles correndo, que foi o momento que aparece ele correndo [em imagens registradas pelas câmeras do Metrô] dentro da estação”. Os suspeitos disseram ainda, de acordo com Marques, que o ambulante, que tentou defender os moradores de rua, deu uma garrafada neles. Segundo o delegado, a polícia ainda não tem as imagens das câmeras externas para analisar se houve algum registro do lado de fora da estação de Metrô.
Testemunhas do fato, no entanto, disseram à polícia que a confusão começou porque um morador de rua reclamou que os dois suspeitos estavam urinando no local. “Nenhuma testemunha fala da garrafada”, disse o delegado. Marques informou que, no entanto, um dos suspeitos, Alípio, apresentava lesões na cabeça, na perna e no braço.
O delegado disse que os depoimentos de ambos apresentam contradições. “Um fala que foram roubados celular, óculos escuro e outro fala que foi só dinheiro. O que eles concordam é que eles estavam bêbados e que houve uma agressão na parte externa e que eles apenas reagiram”. Marques afirmou ainda que todas 14 testemunhas do caso reconheceram os dois suspeitos como autores do crime. “Não tem nenhuma dúvida. Mesmo o advogado de defesa é claro em falar que foram eles.”
Nenhum dos dois agressores tem passagem pela polícia, mas um boletim de ocorrência foi registrado, no mesmo dia, por um vizinho por perturbação. O delegado disse que os suspeitos disseram trabalhar com um tio, que é pedreiro.
Crime
Luiz Carlos Ruas foi espancado e morto às 22h25 de domingo, noite de Natal. Segundo testemunhas, o ambulante vendia salgados e refrigerantes do lado de fora da estação quando dois homens se desentenderam com ele e passaram a agredi-lo. O ambulante defendia moradores de rua, incluindo uma travesti e um homossexual, que também foram agredidos pelos dois suspeitos.
O vendedor tentou correr até a bilheteria da estação na Estação Pedro II do Metrô, mas foi atingido por vários golpes e caiu no local. Ele foi socorrido e levado a um hospital por agentes de segurança do Metrô, mas não resistiu aos ferimentos.
Apesar da agressão a uma travesti e um homossexual, o delegado disse que não há indícios de que tenha ocorrido um crime de intolerância. “Não há nada que leve a um crime de intolerância, que eles tenham agredido por serem homossexuais ou moradores de rua. Por enquanto não. Tem um crime bárbaro de agressão, mas não tem nada que fale que seja por intolerância.”