No segundo semestre de 2013, por pressão da Associação Médica Brasileira (AMB) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), o Revalida estreou nas ruas em protestos contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) e o Programa Mais Médicos, particularmente cubanos.
Em cartazes e faixas carregados por profissionais, lá estava ele presente:
Revalida, sim!
Revalida ou a saúde morre!
Nossa luta é por sua vida. Revalida, sim!
Revalida é que garante que ‘’o seu médico’’ é realmente médico
Revalida, sim! Importação de médicos, não!
Revalida é que garante que ‘’o seu médico’’ é realmente médico
Basta dar uma busca no Google. Vai encontrar fotos com esses e outros dizeres, alguns desrespeitosos, até de baixo nível.
Revalida é o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira.
É necessário para que médicos estrangeiros e brasileiros formados em medicina no exterior possam exercer a profissão no Brasil.
Tornou-se palavra de ordem para os profissionais brasileiros, que, por vezes, urravam-na agressivamente, como aconteceu em Fortaleza.
Virou ponto de honra para as corporações médicas, como o Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB), Federação Nacional de Médicos (Fenan).
Em entrevistas e nos respectivos portais e publicações, a sua obrigatoriedade era martelada: Revalida ou morte!
Ou seja, ou o Revalida passava a ser feito ou as pessoas iriam morrer.
No início de novembro, a AMB pediu ao presidente Jair Bolsonaro que médicos formados em instituições estrangeiras sejam obrigados a fazer o Revalida.
Pois bem, em 10 de dezembro o Ministério da Saúde publicou um segundo edital para ocupar as cerca de 8.500 vagas dos médicos cubanos.
Em 14 de novembro, o governo de Cuba, após ataques e exigências de Bolsonaro, decidiu sair do Programa Mais Médicos do Brasil.
O segundo edital visa a preencher as vagas não ocupadas no primeiro edital, publicado em 19 de novembro de 2018.
Ele diz que poderão participar médicos brasileiros formados no exterior e estrangeiros. Confira abaixo.
Detalhe importantíssimo: o Revalida não é mais necessário. Tanto que, agora, não é pedido para brasileiros formados no exterior e estrangeiros.
Cadê as manifestações indignadas das corporações médicas e dos profissionais patriotas, exigindo o Revalida?
O que aconteceu com a língua do futuro ministro da Saúde, o deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), ferrenho defensor do Revalida, inimigo do Mais Médicos e dos cubanos e enrolado com Justiça?
As inscrições terminaram nesse domingo, 16/12.
Estranhamente nenhum pio de nenhum deles contra a dispensa do Revalida.
Via e-mail, por meio das respectivas assessorias de imprensa, o Viomundo questionou o CFM e a AMB.
Idêntica mensagem foi enviada às duas entidades:
O Ministério da Saúde divulgou um novo edital do Mais Médicos.
Médicos brasileiros formados no exterior e médicos estrangeiros podem se candidatar sem o Revalida.
Em nenhum momento é dito que eles terão de fazer a prova de validação.
O que acha disso, já que a entidade e seu presidente exigiam o Revalida dos médicos cubanos?
Nenhum retorno. Silêncio.
Parece que o gato fez a festa e comeu a língua dos hipócritas em geral, inclusive da mídia que não saiu entrevistando ‘’especialistas’’ pelas mortes que a falta agora do Revalida iria causar.
Diante disso, só nos resta perguntar:
Será por que AMB, CFM, médicos patriotas e grande mídia rezam pela mesma cartilha ideológica de Michel Temer e Jair Bolsonaro e o Revalida então não vem ao caso?
Os ataques aos médicos cubanos eram mesmo de cunho ideológico-xenofóbico e o Revalida, apenas o bode na sala?
Considerando que Bolsonaro prometeu que não toleraria médicos atuando no Brasil sem diploma revalidado e sua equipe de transição está dando ok ao que o Ministério da Saúde está fazendo, o que mudou na avaliação deles?
Os médicos brasileiros não são suficientes para atender às pessoas em todos os lugares que elas precisam?
Os médicos brasileiros formados no exterior e estrangeiros são necessários para atender a população e têm, sim, qualidade para fazê-lo independentemente do Revalida?
O certo mesmo é que a saúde da população é o que menos ou pouco importa para corporações médicas, muitos profissionais, governo que sai, governo que entra.
Certamente, Hipócrates deve estar se revirando no túmulo com o nível ético da maioria dos colegas brasileiros da atualidade.