O deputado licenciado André Vargas (PT-PR) anunciou na noite desta quarta-feira, 8, a renúncia ao cargo de vice-presidente da Câmara. A decisão ocorre no mesmo dia da abertura do processo disciplinar contra ele no Conselho de Ética da Casa.
A carta de renúncia de Vargas foi lida em plenário na noite desta quarta pelo líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP). “Tomo essa decisão para que eu possa me concentrar em minha defesa perante o conselho e para não prejudicar o andamento dos trabalhos da Mesa Diretora, e também preservar a imagem da Câmara, do meu partido e de meus colegas deputados”, diz o petista no documento.
Ao ler a carta, Vicentinho disse que o partido apoia sua decisão e que, a partir de agora, a legenda passará a discutir nomes para substituir Vargas na vice-presidência. Os mais cotados são o ex-líder do PT José Guimarães (CE), o vice-líder do governo Henrique Fontana (RS) e o ex-presidente da Câmara Marco Maia (RS).
Vicentinho hesitou em falar sobre uma possível renúncia de Vargas ao mandato parlamentar e limitou-se a dizer que a questão é “de foro íntimo”. “Ele agora quer ter o direito defesa e de ser ouvido”, disse Vicentinho.
A renúncia não livra o deputado do processo disciplinar no Conselho de Ética. O colegiado vai investigar as relações de Vargas com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal durante a Operação Lava Jato, que apura esquema de lavagem de dinheiro. Em entrevista ao Broadcast Político nesta quarta, o relator do processo disciplinar, deputado Julio Delgado (PSB-MG) disse que considera o caso “muito grave”.
Delgado é o mesmo que em 2005 pediu a cassação de José Dirceu. Ele afirmou que conduzirá a relatoria de forma a dar amplo direito de defesa ao petista mas afirmou que “é importante resguardar a imagem do Legislativo”. Ele tem 90 dias, contados a partir desta quinta-feira, 10, para apresentar seu parecer, que pedirá ou não a cassação do mandato de Vargas.
O presidente do Conselho, Ricardo Izar (PSD-SP), entretanto, quer agilizar o processo. Ele afirmou que vai pedir que o relator apresente seu parecer antes do prazo regimental. A intenção é levar o caso à votação do plenário antes do recesso parlamentar. “Vamos pedir para o relator ser o mais rápido possível”, disse Izar.
Mesmo licenciado, Vargas será chamado para apresentar a defesa. Testemunhas poderão ser convidadas para depor. Se for condenado no Conselho de Ética, André Vargas pode ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, perder o mandato em votação aberta no plenário e ficar inelegível por oito anos.
Relação suspeita. O calvário de Vargas teve início na semana passada, quando o jornal Folha de S.Paulo revelou que ele usou um jatinho pago pelo doleiro para viajar em férias com a família à João Pessoa (PB). A viagem teria custado R$ 100 mil.
Nesta semana, a revista Veja revelou trocas de mensagens nas quais Youssef prometia “independência financeira” a Vargas com a intermediação de um contrato do laboratório Labogen com o Ministério da Saúde.
Na segunda-feira, 7, pressionado até por colegas de partido, Vargas pediu licença do cargo por 60 dias. Durante este período, o deputado vai ficar sem receber o salário de R$ 26 mil.
Veja a íntegra da nota publicada no site do deputado
Renuncio a vice-presidência da Câmara
Em virtude da decisão tomada hoje pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, pela instauração de procedimento de apuração de denúncias apresentadas contra mim, decidi apresentar minha renúncia à vice-presidência desta Casa.
Tomo esta decisão para que possa me concentrar em minha defesa perante o Conselho e para não prejudicar o andamento dos trabalhos da Mesa Diretora, e também de preservar a imagem da Câmara, do meu partido e de meus colegas deputados.
Tenho enfrentado um intenso bombardeio de denúncias e ilações lançadas em veículos de imprensa baseadas apenas em vazamentos ilegais de informações, as quais terei agora a oportunidade de esclarecer, apresentando minha versão – a verdade – a respeito de tudo que vem sendo divulgado.
Enfrentarei tranquilamente este processo na certeza de que provarei, ao final, que não cometi nenhum ato ilícito. Sigo com muito orgulho de minha história política e minha luta, ao lado de tantos companheiros, em defesa do povo paranaense e pela construção de um Brasil melhor.
Brasília, 9 de abril de 2014.