Após recusar ofertas, Bolsonaro agora pede à Pfizer para antecipar vacinas

Após passar o segundo semestre de 2020 ignorando as ofertas de vacinas da Pfizer, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se reuniu, na noite de segunda-feira (14), com representantes da farmacêutica para pedir que a empresa antecipe o calendário de entrega dos imunizantes contra a Covid-19.

No encontro, Bolsonaro conversou por videochamada com o presidente da Pfizer na América Latina e ex-CEO da empresa no Brasil, Carlos Murillo. Segundo o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigro Cruz, um dos assuntos da reunião foi exatamente a possibilidade de antecipar as doses inicialmente contratadas. 

“A gente tem o primeiro contrato de 100 milhões de doses cujo cronograma estima até setembro receber a totalidade dessas doses. O que a gente pediu, entre outros assuntos, foi verificar a possibilidade de antecipar ao máximo as doses contratadas dentro deste primeiro contrato”, afirmou Cruz.

 

De acordo com reportagem do G1, o secretário disse que os representantes da Pfizer alegaram que o momento atual é de muita demanda por vacinas. No entanto, a empresa teria dito que se esforçará para atender o pedido do governo brasileiro. 

Segundo o jornal, não foi falado em adiantar a entrega em um período de tempo específico. Na reunião, além de Bolsonaro, estavam presentes alguns ministros do governo e aliados bolsonaristas. São eles:

  • Marcelo Queiroga (Saúde);

  • Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil);

  • Carlos França (Relações Exteriores);

  • Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central);

  • Almirante Flavio Rocha (secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência).

O encontro não constava da agenda oficial e pública de Bolsonaro até cinco horas depois da realização da reunião. O Palácio do Planalto publicou fotos do encontro, mas não forneceu informações sobre o que foi discutido entre Bolsonaro e Murillo.

Bolsonaro ignorou ofertas de vacinas da Pfizer

Cópias de e-mails trocados entre o governo federal e a Pfizer, obtidos via Lei de Acesso à Informação, mostram que o gabinete do presidente Bolsonaro acusou recebimento, no dia 14 de setembro, de uma carta da farmacêutica americana que reiterava propostas de venda de doses da vacina contra Covid-19. Os documentos foram obtidos pelo site “O Antagonista”. 

Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o secretário de Comunicação da Presidência (Secom), Fábio Wajngarten, afirmou que o governo só voltaria a negociar com a Pfizer cerca de dois meses depois, no dia 9 de novembro daquele ano.

Entenda a cronologia da troca de e-mails da Pfizer com o governo de Jair Bolsonaro:

  • 15 de agosto de 2020: segundo a Pfizer, nesta data a farmacêutica ofereceu 70 milhões de doses ao Brasil, com primeiras remessas previstas para dezembro;

  • 12 de setembro de 2020: segundo o ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, o governo brasileiro, inclusive Bolsonaro, recebe uma carta da Pfizer, com oferta de doses;

  • 9 de novembro de 2020: Wajngarten toma conhecimento da carta e descobre que ela está há dois meses sem resposta. De acordo com o relato na CPI, o ex-secretário decide então procurar representantes da empresa;

  • 9 de novembro de 2020: No mesmo dia em que respondeu a Pfizer, segundo Wajngarten, ele foi até Bolsonaro para colocar o presidente da República em contato com presidente da Pfizer no Brasil. O ministro da Economia, Paulo Guedes, estava presente a essa reunião;

  • 17 de novembro de 2020: À CPI, Wajngarten relata que, nesse dia, teve uma reunião com o então presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo e a diretora de Comunicação da empresa;

  • 7 de dezembro: nova reunião de Wajngarten com representantes da Pfizer. Desta vez, segundo o ex-secretário, a empresa mostrou a caixa em que as doses são acondicionadas na temperatura necessária para não perderem a validade;

  • 7 de janeiro de 2021: a Pfizer divulga uma nota confirmando que, em agosto de 2020, ofereceu a venda de 70 milhões de doses ao governo brasileiro, mas o contrato foi recusado pelo país;

  • Março de 2021: no auge da pandemia e do colapso na saúde pública, o governo anuncia assinatura do contrato com a Pfizer para o fornecimento de 100 milhões de doses, distribuídas pelos próximos meses.

A cronologia foi montada com informações do G1, outros veículos de imprensa, relatos da CPI da Covid. Todas confirmadas pelo Yahoo! Notícias.

70 milhões de doses da vacina; 1,5 milhão em 2020

A oferta mais recente à época, feita pela farmacêutica no dia 26 de agosto, oferecia 70 milhões de doses de vacina, sendo 1,5 milhão para entrega ainda em 2020.

Na resposta à Pfizer, o email assinado pela chefe do gabinete adjunto faz referência à proposta apresentada pela farmacêutica, no mês anterior, a representantes dos ministérios da Saúde e da Economia e da embaixada do Brasil nos Estados Unidos.

“Acusamos o recebimento da correspondência s/nº de 12/9/2020, dirigida ao Senhor Presidente da República, informando que sua equipe do Brasil se reuniu com representantes dos Ministérios da Economia e da Saúde, bem como com a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, e apresentou proposta para fornecer potencial vacina contra a Covid-19, que até o presente momento não obteve qualquer posicionamento sobre a referida proposta”, diz a resposta do gabinete de Bolsonaro.

“Pela natureza do assunto, informamos que o referido documento foi encaminhado ao Ministério da Saúde, bem como à Casa Civil da Presidência da República”, completa a resposta.

Cronograma de vacinas da Pfizer no Brasil

Conforme o secretário do Ministério da Saúde afirmou, o governo federal assinou dois contratos com a Pfizer, cada um para a compra de 100 milhões de doses.

A projeção de entregas de vacinas Covid-19 do Ministério da Saúde, atualizada semanalmente, da última quarta-feira (9), prevê o seguinte cronograma de entrega de doses da Pfizer até o final de 2021:

Primeiro contrato:

  • 12 milhões de doses em junho de 2021;

  • 8 milhões de doses em julho de 2021;

  • 76 milhões de doses em agosto e setembro de 2021.

Segundo contrato:

  • 100 milhões de doses no quarto trimestre de 2021.

As remessas entregues até esta segunda-feira (14) foram distribuídas em lotes:

  • 29 de abril: 1 milhão de doses

  • 5 de maio: 628.290 mil doses

  • 12 de maio: 628.290 mil doses

  • 19 de maio: 629.460 mil doses

  • 26 de maio: 629.460 mil doses

  • 1º de junho: 936 mil doses

  • 2 de junho: 936 mil doses

  • 3 de junho: 527.670 mil doses

  • 8 de junho: 526.500 mil doses

  • 9 de junho: 936 mil doses

  • 10 de junho: 936 mil doses

Em um mês, Pfizer enviou 10 e-mails cobrando respostas do Ministério da Saúde; entenda cronologia

A CPI da Covid recebeu uma série de e-mails enviados pela Pfizer que comprovam quanto a empresa insistiu para negociar com o governo brasileiro. Os documentos foram entregues em caráter sigiloso, segundo a Folha de S. Paulo.

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