São Paulo — Após o vazamento do vídeo que flagra um agente da PM jogando um homem em um córrego do alto de uma ponte em Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo (veja vídeo abaixo), a supervisora regional da corporação foi até o local para buscar indícios do crime, como a localização de um eventual corpo.
O jovem foi arremessado na madrugada de segunda-feira (2/12) pelo soldado Luan Felipe Alves Pereira, do 24º Batalhão Metropolitano, por cima de uma ponte sob a qual passa o Córrego Cordeiro, em Cidade Ademar. O Metrópoles apurou que o rapaz arremessado ficou com a cabeça bastante machucada, mas sobreviveu à queda de cerca de três metros e saiu caminhando de dentro do córrego.
Segundo o registro interno feito pela Polícia Militar, o comandante do 3º Batalhão teve acesso ao vídeo da conduta do policial por volta de 17h10 da segunda-feira. Então, às 17h30, fez contato com o comandante de polícia da área correspondente e um inquérito policial militar foi instaurado.
A supervisora regional da PM, identificada como uma capitã da corporação, acompanhada de um tenente do 3º BPM e do chefe da agência de inteligência da PM, fizeram diligências no local por volta de 21h da noite da segunda-feira — horas após o ocorrido. Além de tentar encontrar a vítima, o objetivo era verificar eventuais câmeras de segurança e outras provas para investigar a ocorrência.
Perseguição, baile funk e tiro
Horas antes do episódio de agressão na ponte, mas ainda na madrugada de segunda-feira, os policiais do 24ºBPM dizem ter perseguido suspeitos, em motos, até chegarem em um baile funk, cujo fluxo se dispersou com a presença dos PMs. Um rapaz teria sido ferido com um tiro. O baile acontecia na mesma rua em que fica o córrego de onde o homem foi jogado.
Por causa do tiro disparado, equipes da Seção de Polícia Judiciária Militar e Disciplina se deslocaram na noite de segunda até o hospital onde estava a vítima com disparo de arma de fogo, para verificar se o caso tinha alguma conexão com o do rapaz arremessado. Não há informações sobre o andamento dessa investigação.
Ao supostamente apresentarem a ocorrência do rapaz baleado no 26º Distrito Policial (Sacomã), ainda segundo relatado feito pelos policiais militares, o registro da ocorrência teria sido “dispensado”. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Civil não localizou, até o momento, registro nem apresentação de ocorrência envolvendo uma pessoa baleada no local.
“No entanto, o 97º DP e a Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (CERCO), da 2ª Seccional, realizam diligências para identificar a autoria e esclarecer os fatos”, afirmam.
SSP afasta 13 policiais
Nessa terça-feira (3/12), a SSP determinou o afastamento imediato de 13 policiais militares envolvidos no caso. “A instituição repudia veementemente a conduta ilegal e instaurou um inquérito para apurar os fatos e responsabilizar todos os agentes”, afirma a nota da pasta.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, divulgou um vídeo em que anuncia o afastamento dos agentes envolvidos no caso. Derrite também condenou a ação policial.
“Quero dizer para todos vocês que essa ação não encontra respaldo nenhum nos procedimentos operacionais da Polícia Militar e eu determinei ao comando da Polícia Militar o afastamento imediato de todos os policiais envolvidos nessa ação”, afirmou Guilherme Derrite. “Não vamos tolerar nenhum tipo de desvio de conduta de nenhum policial no Estado de São Paulo.”
O secretário ainda afirmou que, a partir desta terça, os agentes envolvidos vão cumprir o expediente administrativo na Corregedoria da Polícia Militar até que todos os procedimentos investigativos sejam esclarecidos e sanados.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se posicionou sobre o caso em uma publicação no X (antigo Twitter). Segundo Tarcísio, o caso será investigado e rigorosamente punido.
O procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, também publicou uma nota nessa terça-feira na qual classifica como “estarrecedoras” e “absolutamente inadmissíveis” as imagens que flagraram a conduta do policial militar.
A nota classifica o caso como mais um dos “episódios recorrentes de descumprimento dos comandos legais por parte de alguns agentes públicos”, que segundo o procurador-geral, “nos deixam mais longe da tão almejada paz social”.
“Estarrecedoras e absolutamente inadmissíveis! Não há outra forma de classificar as imagens do momento no qual um policial militar atira um homem do alto de uma ponte, nesta segunda-feira”, afirma o Paulo Sérgio de Oliveira e Costa. “Somente dentro dos limites da lei se faz segurança pública, nunca fora deles.”
Entenda o caso
Nas imagens que flagraram a conduta dos policiais, é possível ver três policiais militares na ponte. Um deles levanta uma moto do chão e a encosta na mureta. Um quarto policial aparece segurando pelas costas um homem vestido com camiseta azul. Em questão de segundos, o militar levanta o homem pelas pernas e o joga do alto da ponte, sob a qual passa um córrego.
Assista:
Um outro vídeo mostra o corpo de um homem também vestido de azul, de bruços, boiando no córrego. Não há confirmação se o corpo é o mesmo do homem jogado pelo PM.
Veja:
Embora questionada, a SSP não divulgou informações sobre a vítima. O espaço permanece aberto.