O Antagonista – Em nota, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, atacou Paulo Guedes pela declaração feita pelo ministro de que ele não irá “ferrar o Brasil todo para que Manaus tenha benefícios”.
Diz o prefeito:
“Cabe ao governo alçar o debate à altura do brilhantismo do próprio ministro Paulo Guedes, do economista Samuel Pessoa e de todos que dissertam sobre a Amazônia sem conhecê-la e condenam a Zona Franca, criada por Roberto Campos, sem admitirem o contraditório, sem a radiografarem por inteiro, sem examinarem tudo que ela é e tudo que está em volta dela.”
Leia comentário do prefeito na íntegra
Em debate com jornalistas da GloboNews, o ministro Paulo Guedes(Ministério da Economia) foi extremamente infeliz ao se referir ao Polo Industrial de Manaus. Não se mostrou preocupado com o destino de mais de quatro milhões de habitantes do Amazonas que, com o eventual fim da Zona Franca não teriam nenhuma alternativa de curtíssimo prazo para sobreviver. E nem pareceu informado do caráter estratégico e do fantástico potencial econômico de uma região que é terra Brasil, mas é também de agudo interesse planetário.
O MUNDO NÃO TOLERARIA UMA GOVERNANÇA IRRESPONSÁVEL QUE INDUZISSE AO DESMATAMENTO DA COBERTURA FLORESTAL QUE COBRE O AMAZONAS. O Brasil perderia densidade política, haveria uma crise diplomática intensa e mesmo um certo nervosismo militar internacional.
A Zona Franca, que erigiu um forte parque industrial, gera 500 mil empregos diretos e indiretos e mantém a floresta em pé, não pode ser tratada como se fosse um estorvo. Ao contrário, deveria receber investimentos significativos em sua infraestrutura de telefonia celular e de internet, além da construção de portos, aeroportos e da estruturação de hidrovias, a começar pela do rio Madeira, ao mesmo tempo investindo em formação de mão-de-obra, em capital intelectual e em novos polos e produtos concernentes com o mundo 4.0, que ficará conosco ou nos ignorará. Outras obras relevantes são a revitalização da BR-174 e da BR-319, para abrir perspectivas reais a um estado hoje fisicamente isolado das demais unidades da Federação.
Penso que, nessa questão dos incentivos, o ministro Paulo Guedes e seu seleto time de economistas estão a seguir o MANUAL DE TEORIA ECONÔMICA, no sentido de que incentivos fiscais e/ou creditícios devem ser concedidos, com prazo para terminar, a indústrias incipientes, pois, segundo a Teoria, isso incentivaria a competição industrial no mercado e, por igual, a busca por avanços de produtividade por parte das beneficiárias dos incentivos.
Ou seja, ESTÃO RACIOCINANDO DENTRO DA CAIXA, sem se dar conta de que a ZFM foi e continuará a ser bem sucedida no que é prescrito pela Teoria, a começar pelo fato de esse modelo contar com empresas em situação de produtividade marginal positiva e crescente.
Quando tratamos, aliás, de incentivos, precisamos compreender que A ZONA FRANCA NÃO É FRUTO DE UMA POLÍTICA DE GOVERNO, MAS SIM DE UMA POLÍTICA DE ESTADO. Ou não estaria resguardada, até 2073, pelo artigo 40 das Disposições Transitórias da Carta Constitucional de 1988.
Preservar e fazer crescer a ZFM é DEVER de todos os governos, até 2073. De um jeito ou de outro. Afinal, mandamento constitucional é para ser obedecido e não discutido como se fosse mero projeto de Lei Ordinária.
Sou favorável a não se quebrar o diálogo com o talentoso (segundo Roberto Campos, seu mais brilhante aluno na comparação com todos os demais) ministro Paulo Guedes. Precisamos leva-lo a entender o conjunto de razões, com base real e sólida, que nos leva a defender o Polo Industrial de Manaus. As críticas, quase acusatórias, bem ao invés, empíricas e insustentáveis, não se sustentariam num debate que, aliás, precisa acontecer logo, na frente do Brasil inteiro.
Entristece-me ler um prezado amigo, economista perto da genialidade, como Samuel Pessoa, integrar o bloco do empirismo, falando -e essa não é sua marca- sobre o que o que não conhece na prática, acerca do que desconhece no cerne, a respeito do que ignora nos detalhes inexistentes nas suas fontes de consulta. Samuel Pessoa reconheceu, como única virtude da ZFM a proteção da floresta.
Ora, isso é muito pouco, caríssimo Samuel, porque soa como se as indústrias não existissem, os empregos não fossem gerados, o Manual não estivesse sendo observado. Como se desse para ignorar os “rios voadores”, a interação entre a pujança da floresta e a majestade dos seus rios. Como se desse para ignorar o resto do mundo, as responsabilidades do Brasil e o esforço de tantos para se mitigar os efeitos nocivos do aquecimento global.
As reformas são essenciais e haverão de ser aprovadas, sob pena de estarmos sendo perversos com o futuro de nossos filhos e netos. Não se trata de “toma-lá-dá-cá”.
Independente dessa realidade, incumbe ao governo buscar forças na humildade e entender que está sendo míope, em relação à região mais promissora, rica e estratégica do país.
Cabe ao governo alçar o debate à altura do brilhantismo do próprio ministro Paulo Guedes, do economista Samuel Pessoa e de todos que dissertam sobre a Amazônia sem conhecê-la e condenam a Zona Franca, criada por Roberto Campos, sem admitirem o contraditório, sem a radiografarem por inteiro, sem examinarem tudo que ela é e tudo que está em volta dela.
Inclusive, quem sabe!, visitando algumas de suas fábricas e vivendo, por um momento que seja, a dor e o sentimento de desperdício de quem se sente menoscabado, subestimado e subutilizado.
Feliz Páscoa para todos os manauaras e brasileiros!