CARTA CAPITAL – O presidente Jair Bolsonaro ameaçou tirar o Brasil da Organização Mundial da Saúde (OMS), durante conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, nesta sexta-feira 5. Dessa forma, Bolsonaro copiaria a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou o rompimento com a entidade em 29 de maio.
Para Trump, a OMS é muito tolerante com a China em relação à pandemia do novo coronavírus. Em sucessivas declarações, o chefe da Casa Branca pediu reformas na entidade para assegurar sua “independência” em relação a Pequim. No entanto, ele considerou que seu pedido não foi atendido e decidiu redirecionar para outras fundações toda a verba que destinava à entidade.
Agora, Bolsonaro sugeriu que pode fazer o mesmo. O presidente da República fez queixas sobre a decisão da OMS em retomar os testes com a hidroxicloroquina no tratamento contra a covid-19, anunciada na quarta-feira 3. A entidade havia suspendido os ensaios clínicos em 25 de maio, após um estudo em larga escala descartar os benefícios da substância. No entanto, a OMS considerou que os dados disponibilizados não deram razão para a suspensão dos testes.
Apesar de a OMS ter deixado explícito que a suspensão ocorreu por precaução, Bolsonaro afirmou que a conduta da entidade tem “viés ideológico”.
“Foi despublicado aquele estudo que desaconselhava a cloroquina. Voltou agora, a OMS voltou atrás. A OMS é o seguinte né, o Trump cortou a grana deles, voltaram atrás em tudo. Só falta… Um cara que nem é médico”, disse o presidente, referindo-se ao diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus. “E eu adianto aqui, tá. Os Estados Unidos saiu da OMS, a gente estuda no futuro, ou a OMS trabalha sem o viés ideológico, ou nós vamos estar fora também. Não precisamos de gente lá de fora dar palpite na saúde aqui dentro.”
Não é a primeira vez que Bolsonaro ataca a OMS. Em oportunidades anteriores, o presidente menosprezou o currículo de Ghebreyesus, destacando que o diretor da entidade não é médico. De fato, a graduação de Ghebreyesus não é em Medicina, mas ele ostenta uma longa carreira como profissional de saúde. Formado em Biologia, estudou doenças infecciosas na Universidade de Londres, no Reino Unido, e nos anos 2000 tornou-se doutor em Saúde Pública. Entre 2005 e 2012, atuou como ministro da Saúde da Etiópia.
Embora Bolsonaro manifeste que seguirá Trump mais uma vez, o próprio chefe da Casa Branca citou o Brasil como mau exemplo de combate à pandemia. Durante discurso em Washington, o presidente americano afirmou que, se os EUA imitassem a conduta brasileira, o país norte-americano poderia chegar a 2,5 milhões de mortos.
Na quinta-feira 4, o Brasil passou a Itália e ocupa o 3º lugar entre os países com mais mortos pela covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, o país já tem mais de 34 mil óbitos pela doença.