CARTA CAPITAL – Sem máscara, o presidente Jair Bolsonaro participou mais uma vez de uma manifestação em Brasília, neste domingo 24, em desobediência às recomendações do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS). O ato descumpre o próprio decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB), que obriga o uso de máscara em locais público.
Bolsonaro sobrevoou a aglomeração em um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) e, depois, transmitiu sua chegada ao protesto em suas redes sociais. No início do vídeo, o chefe do Palácio do Planalto aparece usando máscara e diz que a manifestação é “espontânea do povo, pela democracia e pela liberdade”.
m seguida, ele se aproxima de uma aglomeração de apoiadores vestidos com as cores da bandeira do Brasil, em frente à Praça dos Três Poderes. Nas imagens, também aparecem erguidas as bandeiras dos Estados Unidos e de Israel. Em certo momento, Bolsonaro tira a máscara e acena aos apoiadores, ao som de fogos e de gritos de “mito”. Manifestantes seguram faixas e cartazes com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Antes de participar do ato, Bolsonaro publicou na internet o texto da Lei 13.869/2019, que dispõe sobre o “abuso de autoridade”. O trecho selecionado pelo presidente, o Artigo 28, prevê detenção de 1 a quatro anos para quem “divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou acusado”.
Bolsonaro se manifesta dois dias após o STF divulgar vídeos da reunião ministerial de 22 de abril. As imagens foram apontadas pelo ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, como provas de que o presidente da República tentou interferir politicamente na Polícia Federal. O chefe do Planalto nega interferência, mas sua versão é contrariada por diálogos revelados pelo jornal O Estado de S. Paulo, em que determinou expressamente a demissão de Maurício Valeixo do comando da corporação.
O ex-capitão também teme que seu celular seja apreendido pelo STF, após o ministro Celso de Mello consultar formalmente a Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o pedido de perícia no telefone do presidente. O conteúdo extraído no aparelho pode ser analisado no âmbito do inquérito na Corte que apura interferência política na Polícia Federal. A possibilidade é duramente criticada por militares, que preveem até “guerra civil” se o telefone for apreendido.
Na sexta-feira 22, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, escreveu em sua rede social, em tom de ameaça, que a apreensão do celular de Bolsonaro pode motivar “consequências imprevisíveis” para a estabilidade nacional.