Bolsonaro recua e diz que palavra final sobre uso de máscaras é de Queiroga, governadores e prefeitos: “Eu não apito nada”

Após anunciar que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, esteria prester a derrubar o uso obrigatório de máscara por quem já foi vacinado ou contraiu o coronavírus e se recuperou, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta sexta-feira (11) que caberá ao ministro, governadores e prefeitos dar a palavra final sobre o assunto.

“Ontem pedi para o ministro da Saúde fazer um estudo sobre máscara. Quem já foi infectado e quem tomou a vacina não precisa usar máscara. Mas quem vai decidir é ele, vai dar um parecer”, disse a jornalistas na estrada do Palácio do Alvorada.

Bolsonaro ainda ironizou uma decisão tomada em abril do ano passado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que garantiu a autonomia de estados e prefeituras para tomar decisões relacionadas à pandemia. Na mesma decisão, a Corte deixou claro que o governo federal também pode tomar medidas para conter a pandemia, mas em casos de abrangência nacional.

“Se bem que quem decide na ponta da linha é governador e prefeito. Eu não apito nada, né? Segundo o Supremo, quem manda são eles. Mas nada como você estar em paz com a sua consciência”, disse Bolsonaro.

Parecer para desobrigar uso da máscara

Na quinta, Bolsonaro disse que havia solicitado a Queiroga um parecer para desobrigar o uso do equipamento de proteção. Após anúncio, o ministro da Saúde negou a informação e afirmou que é necessário vacinar a população para que isso aconteça.

“Queremos que seja o mais rápido possível, mas para isso precisamos vacinar a população brasileira e avançar”, disse o ministro.

A declaração de Bolsonaro foi dada horas depois de a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado aprovar a quebra de sigilo telefônico e telemático dos ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e de integrantes do chamado “gabinete paralelo”.

OMS pede que vacinados continuem a usar máscara

Após fala negacionista do presidente na noite de quinta-feira (11), a Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou a recomendar o uso da máscara para pessoas já vacinadas ou para aqueles que já foram infectados pela Covid-19.

“Deixamos a cada país tomar sua decisão, mas essa é a nossa recomendação”, disse. “Vacinas são muito boas para evitar doenças. Mas ela não é um tratamento e só agem se você já foi infectado”, disse Margaret Harris, porta-voz da organização, a coluna do jornalista Jamil Chade, do UOL, nesta sexta-feira (11).

“O que queremos é reduzir a transmissão da doença e não sabemos se as vacinas podem evitar transmissão”, explicou. “Usar a máscara, portanto, é para prevenir a transmissão”.

Necessidade de máscara independe de vacinação

O uso obrigatório de máscaras não deve levar em conta apenas a vacinação, afirmou a OMS, no dia 14 de maio, ao responder a uma pergunta sobre a decisão dos Estados Unidos de liberar pessoas completamente imunizadas de portar o equipamento e de respeitar distanciamento físico.

Quem está vacinado “pode voltar a fazer as coisas que deixou de fazer por causa da pandemia”, disse Rochelle Walensky, diretora do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças). A medida alcança 108 milhões de residentes nos EUA já completamente imunizados, de acordo com o CDC.

Ainda que vacinas reduzam doenças graves, hospitalizações e mortes, elas não têm 100% de eficácia, e usar ou não máscaras não depende da imunização, mas do grau de circulação do vírus, disse o diretor-executivo da OMS, Michael Ryan.

“É fundamental levar em conta a transmissão comunitária [quando a circulação do vírus em um território independe da chegada de pessoas de fora infectadas]” antes de relaxar medidas antitransmissão, disse ele.

A transmissão comunitária nos Estados Unidos está em nível laranja (o segundo maior entre cinco graus possíveis), de acordo com o acompanhamento do CDC, e chega ao vermelho em 11 estados, entre eles Flórida, Pensilvânia, Illinois, Michigan e Colorado.

Austrália e Nova Zelândia foram citadas como exemplos de como a decisão sobre máscaras está dissociada do estágio de vacinação. Mesmo sem campanhas de imunização avançada, esses países conseguiram suprimir a transmissão do coronavírus, o que permitiu evitar restrições.

Membros do ‘Gabinete do Ódio’ admitem que trabalhavam no Governo Bolsonaro

Membros do chamado “gabinete de ódio”, responsável pelas redes sociais do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), ao lado do ex-secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten. Segundo o portal Uol, a confissão foi feita à Polícia Federal por Tércio Arnaud Tomaz, no inquérito que investiga a realização de atos antidemocráticos.

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