Bolsonaro responde no grito denúncias de CPI e orçamento paralelo

Desde a descoberta de Fabrício Queiroz no sítio do advogado de sua família em Atibaia (SP), Jair Bolsonaro caminha entre a cruz do próprio mito e a espada do centrão.

Ele segue onde está com o apoio de novos amigos como Fernando Collor, Arthur Lira e Ciro Nogueira. Amigos que, em outros tempos, não coravam ao defender os governos petistas.

O apoio do centrão tem garantido a permanência na presidência de quem cantava “se gritar pega ladrão, não fica um”.

Mas o preço do apoio tem sido inflacionado à medida que fica evidente a (i)responsabilidade do governo ao longo da pandemia. Já são mais de 430 mil mortos.

A CPI da Pandemia no Senado virou território de uma disputa violenta.

De um lado, senadores de oposição tentam arrancar a fórceps confissões dos depoentes que atestem uma tese central: a de que o governo esnobou a vacina —como atestou o representante da Pfizer na CPI— e apostou criminosamente na imunidade de rebanho.

De outro, aliados sinceros e desinteressados fazem o que podem para manter o cordão de isolamento no entorno do presidente. Tentam jogar a culpa para os governadores e mostrar, contra as evidências de vídeos e outros registros fartamente distribuídos (e posteriormente apagados), que o governo fez o que pode para evitar a catástrofe.

Um dos mais ardorosos defensores do presidente na comissão é o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

O senador amigo foi beneficiário de centenas de milhões de reais oriundos de um orçamento paralelo revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo. O fundo serviria para abastecer o apetite dos amigos de Bolsonaro no Congresso.

Em sua última edição, a revista Crusoé revelou que amigos e parentes do líder do governo no Senado receberam milhões do tal orçamento paralelo. A publicação mostrou também que um operador do centrão contratou um “consultor” investigado por corrupção, que um senador do Acre enviou R$ 20 milhões a uma cidade de Goiás que não viu a cor do dinheiro e que um prefeito amigo do presidente já ganhou R$ 60 milhões vendendo caminhões.

A reportagem que originou o escândalo mostrou que os tratores adquiridos com as verbas foram comprados com sobrepreço.

Diante das notícias, fica cada dia mais evidente de onde vem a paixão repentina da base aliada com o capitão.

Fica mais evidente ainda que não passou de mito, mais um, o holograma projetado na campanha de que, uma vez eleito, Bolsonaro acabaria com o “toma-lá-dá-cá”.

Acossado pelas consequências de seus atos na pandemia e pela descoberta do orçamento, Bolsonaro já derrete nas pesquisas de opinião a um ano e meio da eleição.

Que ninguém espere explicações racionais sobre suas escolhas. Às vésperas do depoimento de seu obediente ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, a saída, para Bolsonaro, é radicalizar. Uma prévia do que vem por aí já foi visto durante a semana, quando ele subiu no tamanco para atacar, em dobradinha com o filho Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Com os gritos, ele imagina que conseguirá abafar o cheiro estranho que leva até o orçamento paralelo e os relatos de integrantes e ex-integrantes do governo sobre a pandemia.

É o recurso que resta quando não se tem mais nada a dizer.

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