Aos 41 anos, a estrela de Hollywood diz que se sente mais forte e poderosa agora do que aos 25, enaltece a amizade em detrimento dos relacionamentos amorosos e faz um alerta às mulheres: elas precisam conhecer o próprio corpo para viver bem.
Dona de um corpo sarado e uma gargalhada escandalosa, Cameron Diaz destoa das demais atrizes de Hollywood por ser direta, espontânea e desbocada. Nada consegue deixar a estrela de 41 anos envergonhada.
Seja usar esperma em vez de gel de cabelo em “Quem Vai Ficar com Mary?’’ (1998), encher a cara e vomitar na própria bolsa em “Jogo de Amor em Las Vegas’’ (2008) ou ter o rosto atingido pelos testículos de um cachorro, situação que Cameron enfrenta em sua nova comédia, “Mulheres ao Ataque” – a partir de 8 de maio nos cinemas nacionais.
No livro de autoajuda que lançou em dezembro, “The Body Book: The Law of Hunger, the Science of Strength, and Other Ways to Love Your Amazing Body”, em tradução livre “O Livro do Corpo: a Lei da Fome, a Ciência da Força e Outras Formas de Amar Seu Extraordinário Corpo”, (editora Harper Collins, 263 páginas), a californiana não só dá dicas de nutrição como incentiva as mulheres a brincarem com suas vaginas e condena a depilação íntima total – uma febre nos EUA.
“Os pelos pubianos estão lá por uma razão, além de servirem de cortina, deixando a região mais sexy e misteriosa”, diz a atriz, sempre bem-humorada e com ar de moleca. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à ISTOÉ, em Los Angeles.
ISTOÉ – Muitas de suas personagens enfrentam situações constrangedoras nos sets, algo menos comum na trajetória de mulheres bonitas nas telas. De onde vem essa sua disposição para fazer rir a qualquer custo?
CAMERON DIAZ – Meus pais sempre me incentivaram a rir de mim mesma. Não é justo rir dos outros e não de você. Aprendi desde criança a me aceitar com todas as coisas ridículas que tenho (risos). Vejo humor nas minhas fraquezas. Faço o que for num set de filmagem, desde que a situação pareça autêntica no contexto do personagem. Não faço provocação simplesmente por fazer. Mas, se a piada é boa, não tenho medo de me colocar numa situação embaraçosa. O ator não pode ter esse tipo de vaidade.
ISTOÉ – O que acha que herdou do lado latino da sua família (seu pai era cubano)?
CAMERON DIAZ – Certamente a família cubana do meu pai influenciou muito meu jeito de ser. Eles sempre foram barulhentos, confiantes e divertidos. Sempre me encorajaram a ser eu mesma e a dizer o que penso.
ISTOÉ – “Mulheres ao Ataque” enaltece o poder da amizade feminina (ao unir três mulheres enganadas pelo mesmo homem). Acha que as mulheres estão, de fato, menos competitivas?
CAMERON DIAZ – As relações estão mudando. Odeio a ideia de que a amizade das mulheres vai por água abaixo assim que entra um bonitão em jogo. Hoje as mulheres já sabem que talvez seus namoros e casamentos não durem para sempre. É por isso que precisamos tanto das nossas amigas, que ficarão do nosso lado. A amizade feminina é algo importante e poderoso na minha vida.
ISTOÉ – Uma de suas melhores amigas é a atriz Drew Barrymore. Como é quando duas estrelas saem juntas para se divertir?
CAMERON DIAZ – Se eu e Drew temos algo em comum é a nossa espontaneidade. Estou nessa profissão há muito tempo e Drew é atriz desde criancinha. Vivemos a nossa vida e não nos preocupamos com o que os outros vão pensar. Quando estamos juntas, fazemos o que temos vontade. Saímos ou ficamos em casa, cozinhando ou vendo filmes. Não deixamos que o assédio limite os nossos movimentos. Não nos privamos do que queremos fazer. Se quiserem fotografar, podem ir em frente.
ISTOÉ – Drew está prestes a ter o segundo filho…
CAMERON DIAZ – Estou muito feliz por ela, principalmente por saber que Drew sempre sonhou em formar uma família, algo que ela não teve quando era criança.
ISTOÉ – Incomoda quando perguntam se você também não quer filhos? Geralmente essa pergunta só é feita às mulheres acima dos 40, não aos homens.
CAMERON DIAZ – Existe um machismo sim. Mas entendo a pergunta. Se fosse algo que eu quisesse muito, obviamente eu teria feito acontecer. Mas me contento com os sobrinhos e os filhos de amigos que estão na minha vida. A minha resposta é que, por vezes, incomoda ficarem perguntando.
ISTOÉ – Como assim?
CAMERON DIAZ – Quem pergunta se não quero ter filhos o faz por duas razões. Ou eles adoram a paternidade e querem dividir esse sentimento com você. Ou eles perguntam por que a sua opção os faz questionar a deles. Talvez eles pensem: será que eu podia ter feito essa escolha também e não ter tido filhos? A verdade é que eu não sinto que esteja perdendo algo. Não preciso parir para me sentir mulher.
ISTOÉ – O que levou uma estrela como você a falar abertamente de sexualidade feminina num livro?
CAMERON DIAZ – Como tenho uma compreensão de como funciona o nosso corpo, de tanto pesquisar, não daria para excluir a vagina. Até porque ela é uma parte importante do corpo para as mulheres – e para os homens também. É espantoso como nem todo mundo conhece a anatomia da mulher. Mais espantoso ainda é o fato de não falarmos sobre isso. Como se tivéssemos de sentir vergonha do nosso corpo. Eu não tenho vergonha da minha vagina.
ISTOÉ –
Você se sente um modelo de mulher independente e bem resolvida?
CAMERON DIAZ – Eu me sinto bem sabendo que posso ajudar as mulheres a se sentirem mais saudáveis e satisfeitas consigo mesmas e com seus corpos. Gosto da ideia de dar poder às mulheres. Mas, para isso, elas precisam ter respeito por seu próprio corpo e saber como cuidar dele. Não há nada mais importante que o nosso bem-estar e a nossa saúde. Para aproveitar o melhor da vida, inclusive sexual, você precisa estar de bem com o seu físico.
ISTOÉ – Você sempre foi tão autoconfiante?
CAMERON DIAZ – Aprendi a ser autoconfiante. Apesar de o meu corpo ter mudado muito desde os meus 25 anos, eu me sinto mais forte e muito mais poderosa agora. Estou em perfeita conexão com o meu corpo. O maior erro das mulheres é se preocupar tanto com o seu exterior e não com o seu interior. A maioria das pessoas não sabe comer. Elas acordam e pensam em tudo o que precisam fazer, sem pensar no essencial: o que, onde e quando vão comer. Eu monto o meu dia em torno disso, fazendo as melhores escolhas que posso. É preciso ser saudável para pensar direito e ter um dia produtivo. É para isso que precisamos de nutrição, para fazer o nosso corpo funcionar bem.
ISTOÉ – É por fazer do seu bem-estar uma prioridade que você não tem medo de envelhecer?
CAMERON DIAZ – Em vez de me preocupar, eu tomo as rédeas, faço o melhor que posso e aceito o inevitável. Até porque não posso parar o relógio. Faço tudo para ser a pessoa mais vital e capaz na idade que tenho, para aproveitar ao máximo esse momento da minha vida. Quando há um problema de vazamento na sua casa, você chama o encanador, não chama? Não entendo por que as pessoas não fazem o mesmo com o corpo, deixando-o deteriorar. O corpo é onde você vive, é a única coisa que você possui de verdade. Todo o resto pode ser tirado de você.
ISTOÉ – É revigorante ver uma atriz de Hollywood que não tenta aparentar menos idade…
CAMERON DIAZ – Seria ridículo tentar ser mais nova do que sou. Mas, ao mesmo tempo, não admito insinuações de que uma mulher de 40 anos deveria se vestir de acordo com a sua idade. Se algum dia eu achar que não devo mais vestir uma saia curtíssima, não usarei. Mas até lá o que faço e como me visto é da minha conta e de ninguém mais.
ISTOÉ – Algum agente já a aconselhou a ser mais cautelosa com o que diz?
CAMERON DIAZ – Já. Mas não adiantou (risos). O problema é que eu nunca sei exatamente o que vai gerar polêmica ou não. Na minha cabeça, não há nada de errado em falar de vagina ou de pelos pubianos. Como não quero passar a minha vida pensando em qual será a repercussão das minhas palavras, digo logo e pronto. Se não gostarem, paciência. Não dá para agradar todo mundo mesmo.
ISTOÉ – Qual impressão teve do Rio de Janeiro (ela visitou a cidade em 2010, no lançamento de “Encontro Explosivo’’, com Tom Cruise)?
CAMERON DIAZ – Infelizmente não pude ficar muito tempo, o que adoraria ter feito. Mas fiz um inesquecível passeio de helicóptero para conhecer a cidade em poucas horas. Topograficamente o Rio me impressionou muito, com sua beleza natural e única. Também achei a arquitetura muito descolada e gostei da atitude das mulheres brasileiras. Elas me pareceram autoconfiantes e seguras de si, como a mulher deve ser.
ISTOÉ – Mantém contato com Rodrigo Santoro (com quem atuou em “As Panteras: Detonando”, em 2003)?
CAMERON DIAZ – Não, infelizmente. Eu o encontrei há dois anos, durante o tour promocional da comédia “O Que Esperar Quando Você Está Esperando’’, em Londres. Embora estivéssemos no mesmo filme, Rodrigo e eu não contracenamos, pois ele fazia par romântico com Jennifer Lopez, em outra história. Nós todos do elenco saímos juntos para jantar naquela noite. Foi bom rever Rodrigo, que é um cara incrível. É muito charmoso, mas sempre com o pé no chão. É um gentleman.
ISTOÉ – Quando o conheceu, assim que Santoro desembarcou em Hollywood, imaginou que ele teria uma carreira na indústria americana?
CAMERON DIAZ -Sim. Foi por isso que nós o escolhemos para “As Panteras: Detonando’’. Precisávamos de alguém capaz de causar um grande impacto numa única cena. Assim que o vimos, nós todos pensamos: Ele é o cara!