Em meio a Zlatan, Diego, James e Robin existe uma Stephanie na disputa pelo Prêmio Puskas de gol mais bonito de 2014. Neste ano, pela primeira vez na história, uma mulher vai concorrer ao troféu entregue pela Fifa desde 2010.
Stephanie Roche, a irlandesa de 25 anos que enfrenta algumas das maiores estrelas do futebol mundial, não parece perder o sono com o desafio. Esta não será a primeira vez que a atleta do ASPTT Albi, da França, estará sozinha em um ambiente predominantemente masculino.
A atacante rema contra a maré desde os 11 anos, quando decidiu fazer parte do Valeview FC, um time de futebol escolar. De meninos. “Essa foi a primeira equipe em que eu joguei. Fiquei lá por três anos e depois tive que sair. Na Irlanda, a partir dos 14, homens e mulheres devem atuar separados”, conta ela em entrevista por telefone ao ESPN.com.br.
Roche concorda com a segregação feita desde o berço no futebol do seu país – “no futuro, eu teria que jogar profissionalmente com meninas mesmo” -, mas nem por isso respeita essa divisão.
“Treinei o dia inteiro com um grupo de homens pelos últimos dois anos e gostei bastante, é um grande desafio jogar com homens porque eles são mais rápidos e mais fortes do que a maioria das mulheres, e acho que ajuda a me desenvolver como atleta. Nunca sofri discriminação.”
Entre os parceiros de treinamento está, inclusive, seu namorado, meio campista de um time irlandês. Ela prefere não opinar sobre quem ‘manda’ no relacionamento dentro de campo. “Isso poderia me causar problemas”, responde, rindo. “Mas posso dizer que temos estilos diferentes de jogo.”
Stephanie elege como referências futebolísticas tanto homens como mulheres, entre elas companheiras da seleção nacional e adversárias na liga francesa. Sobre o ídolo masculino, o português Cristiano Ronaldo, ironiza: “Não acho que eu seja tão vaidosa quanto ele. O Ronaldo tem alguns produtos de beleza a mais que eu na nécessaire dele.”
Entre o começo no Valeview e a ida ao exterior para o ASPTT Albi, Roche passou por outros quatro times até chegar ao Peamount United, sua equipe anterior, em que conseguiria o feito que a revelou para o mundo.
Cruzamento da lateral, domínio preciso com o pé direito, chapéu com o pé esquerdo de costas para a marcadora e chute perfeito, também com a canhota, no ângulo da goleira do Wexford Youths, adversário da Bus Eireann National League.
“Na temporada passada eu fiz muitos gols pelo meu time, mas, honestamente, esse foi provavelmente o mais bonito que eu já marquei”, opina sobre o lance que chamou a atenção da Fifa. “Ouvi rumores de que eu poderia ser nomeada, mas nunca achei que seria, honestamente.”
Antes de ser descoberta além-mar, ela já fazia bastante sucesso na ilha independente do Reino Unido. “Meu gol foi colocado no Youtube e teve mais de 3 milhões de visualizações, fez bastante barulho na Irlanda, fui a muitos programas de TV e ver isso acontecendo agora no mundo inteiro é brilhante. Está em todo canto, na TV, na rádio, nos jornais. Isso é bom para o futebol feminino.”
A loira de cabelos quase brancos de tão claros é um sucesso nacional. “Acho que sou sim a jogadora mais popular do meu país, talvez no mesmo nível dos homens, mas não cabe a mim dizer isso.”
Stephanie elege o gol contorcionista de Robin Van Persie pela Holanda contra a Espanha, na Copa do Mundo deste ano, na Fonte Nova, como seu preferido entre os outros nove escolhidos para o Puskas. Tim Cahill, pela Austrália, Diego Costa, pelo Atlético de Madri, Marco Fabian, pelo Cruz Azul, Zlatan Ibrahimovic, pelo Paris Saint-Germain, Patjim Kasami, pelo Fulham, James Rodriguez, pela Espanha, Camilo Sanvezzo, pelo Vancouver Whitecaps e Hisato Sato, pelo Sanfrecce Hiroshima, são outros nomeados.
A eleição é feita em votação pela internet até 1° de dezembro, quando os três gols preferidos do público passarão por um segundo pleito, novamente realizado pela rede internacional de computadores.
Roche está confiante. “Muita gente me disse que o meu gol é um dos melhores do top 10 e que possivelmente os fãs votem nele”.
