“Capitã cloroquina” pediu que pagasse viagem de médicos a Manaus para disseminar ‘kit Covid’

Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde

O olavista Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, disse ao Ministério Público Federal no Amazonas que sua pasta custeou as viagens de médicos a Manaus para pressionarem os profissionais locais a receitar remédios sem eficácia para a Covid-19 a pedido da colega Mayra Pinheiro, a “capitã cloroquina”.

Mayra é objeto de requerimentos de convocação por parte de senadores da CPI da Covid.

“Quando a secretária Mayra voltou [de Manaus], ela voltou trazendo a situação que nós encontramos lá, situação de alerta, de alarme, e aí uma série de ações foram iniciadas de forma simultânea. Até houve uma distribuição de atividades, e aí ela pediu ajuda, ‘olha, ajuda a gente a mobilizar para levar alguns voluntários para que a gente possa fazer uma prospecção lá’”, disse Angotti em depoimento dado em março.

No depoimento, ele afirmou que a programação das visitas era atribuição da pauta de Mayra e que entendeu que se tratava de uma “prospecção junto à atenção primária à saúde.”

“A gente buscou ajudar a SGTES [Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, comandada por Mayra] no sentido de correr para organizar essa parte, em esforço cooperativo, e promover a ida de voluntários até lá. Voluntários que, do que eu lembro da programação preparada para eles, a programação não foi a gente que preparou, a gente só ajudou na parte logística, nesse esforço cooperativo, ela incluía a busca de informações na atenção primária à saúde, que é o grande gargalo”, disse Angotti.

O Painel revelou que Mayra, secretária de Gestão do Trabalho, enviou ofício à prefeitura de Manaus em janeiro afirmando ser inadmissível que medicações do chamado “tratamento precoce”, como cloroquina e ivermectina, não estivessem sendo administradas.

A coluna também revelou que ela organizou essa comitiva formada por ao menos 11 médicos de seis estados para fazer a ronda pró-kit Covid nas UBSs em janeiro, quando a capital amazonense atravessava colapso.

Em depoimento ao MPF, também em março, ela confirmou as informações.

Nesse périplo pelas UBSs de Manaus, os médicos distribuíram medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina, sem eficácia para o tratamento da Covid-19 e com relatos de efeitos colaterais.

O Painel obteve vídeo de uma dessas visitas (veja abaixo). Nele, a médica dermatologista Helen Brandão, de Goiás, exalta o exemplo de Porto Feliz (SP), onde o prefeito, Dr. Cássio (PTB), optou por adotar o uso de hidroxicloroquina e ivermectina.

A cidade desde então virou objeto da produção de fake news diversas, como as que dizem que 100% da população tomou hidroxicloroquina e que nenhuma pessoa morreu de Covid-19 na cidade depois de tomar a medicação.

Angotti diz no depoimento que não sabe o motivo para que sua pasta tenha pago pelas viagens, que custaram ao menos R$ 4.200 cada, incluindo passagens e diárias. Ele afirma que a iniciativa foi importante para iniciar sondagem sobre a necessidade de assistência farmacêutica da cidade.

“Logo após essa visita nós mantivemos contato por meio de nossa equipe técnica com a atenção primária à saúde deles, com a parte de assistência farmacêutica para continuar sondando as necessidades deles”, disse. “Imediatamente a gente já mobilizou esforços para, se não me engano, adiantar repasses da assistência farmacêutica para o estado e para o município.”

Em janeiro, o ministério multiplicou o envio de cloroquina para Manaus —segundo Angotti, a pedido do governo do Amazonas e da prefeitura de Manaus.

De 511 mil comprimidos enviados pelo Ministério da Saúde ao estado até então, 130 mil chegaram em janeiro de 2021.

Artigo anteriorIntegração na rede: Fundações apresentam projetos do Programa Saúde Amazonas
Próximo artigoNa CPI, Wajngarten volta atrás, diz que não chamou Pazuello de incompetente e irrita Omar Aziz