José Antonio Dias Toffoli tomou posse como presidente do STF defendendo a pluralidade, citando Cazuza e Renato Russo (até quando?), destacando a harmonia entre os três Poderes da República — e nomeando um general para assessor.
O nome dele é Fernando de Azevedo e Silva, da reserva. Sabe Deus qual foi a intenção de Toffoli, mas o timing é péssimo e o sinal pior ainda.
Villas Boas, o autor da indicação, acaba de dar uma entrevista ao Estadão dando opiniões sobre o processo político — o que é, de resto, proibido por lei.
“A legitimidade do novo governo pode até ser questionada”, ameaçou. Antes disso, chantageou o próprio Supremo no episódio do julgamento do habeas corpus de Lula.
Não houve por parte dos ministros qualquer sinal de repúdio. Ao invés disso, Toffoli agasalha o nome que Villas Bôas lhe dá.
Do lado de fora das espetaculares salas acarpetadas da corte, eles estão tomando espaço. Há 990 candidatos de diferentes patentes, segundo o UOL.
Hamilton Mourão, o vice de Bolsonaro, prega abertamente o golpe e o atropelo da democracia.
Poucos dias após afirmar que as Forças Armadas deveriam intervir no país, agora quer um “conselho de notáveis” para fazer uma Constituição.
Ela “não precisa ser feita por eleitos pelo povo”, discursou em Curitiba. Mourão — um “jumento de carga”, de acordo com Ciro Gomes —, considera o torturador Ustra um herói, acha que o AI-5 “nem foi tão usado”, prega um “auto golpe”.
Está longe de ser uma exceção na corporação. O titular de sua chapa, Jair Bolsonaro, não considera que houve ditadura ou golpe em 1964.
O carioca Azevedo e Silva vai auxiliar Toffoli nas análises e políticas para a área de segurança, inclusive no CNJ.
Sua expertise na área é comparável à dos soldados que estão intervindo nas favelas do Rio, com os resultados conhecidos.
Não se trata de uma questão de competência, aliás, mas do que sua presença representa ali neste momento.
Presidiu a Autoridade Pública Olímpica. Antes da reserva, tornou-se Chefe do Estado-Maior do Exército. Fez parte da missão no Haiti.
Se agiu em nome da “harmonia entre os poderes”, Toffoli pode ter arrumado não uma solução, mas um problema.
Não apenas para si mesmo, mas para o Brasil.