Como a desistência de Luciano Huck impacta a eleição 2022?

Se, em 2018, Luciano Huck não tivesse desistido da candidatura a presidente, Paulo Guedes poderia integrar a campanha do apresentador de TV, Jair Bolsonaro não teria seu Posto Ipiranga para convencer o mercado de sua fajuta conversão ao liberalismo e o resultado da disputa poderia ter sido outro. Não necessariamente a favor de Huck, mas certamente em desfavor do capitão.

Guedes apostava que o próximo presidente seria um outsider com um espólio de engajamento nas redes sociais.

Sem o apresentador, com quem mantinha conversas, mudou de mala e cuia para o barco de Bolsonaro, que escondeu com talco as marcas de 30 anos na política e posou de candidato “diferente de tudo isso que está aí”.

Guedes fez a ponte com parcela considerável do PIB, então refratária ao então postulante do PSL, e o resto é história.

Desde que parte dos eleitores se tocou que de novo o governo Bolsonaro não tinha nada (feat. Centrão), uma fenda em direção a uma chamada terceira via se abriu entre quem não topa dar mais quatro anos para Bolsonaro passear de moto nem aceita um retorno de Lula ou outro nome do PT após o atropelo da Lava Jato.

Outsider é o nome dado ao novato em disputas políticas, geralmente reconhecido pelo trabalho em outro campo, como esportes e entretenimento. Durante quase três anos Huck foi cozinhado em banho-maria como essa opção. Era conhecido do grande público, tinha pretensão política e grande inserção nas redes e canais de comunicação.

Faltou combinar com seu colega Faustão, que de um dia para outro avisou que estava deixando as tardes de domingo da TV Globo e se mudando para outro canal.

Huck ficou diante de dois vazios. O da grade dominical em sua emissora e o da chamada terceira via eleitoral. Ficou com a primeira.

Dias antes foi o empresário João Amoedo (Novo) quem decidiu deixar pra lá a disputa presidencial.

Nem um nem outro tomaria esse caminho sem um embasamento mínimo. Pesquisas internas provavelmente já testaram um cenário que já confirma um quadro desenhado pelos principais institutos de pesquisa. Este cenário aponta para um duopólio entre Lula e Bolsonaro que deixou estreitos os caminhos para os desafiantes.

Ciro Gomes, do PDT, é até aqui o único que não arredou pé. Sabe que teria chances reais de vitória se botar um pé no segundo turno. Difícil é botar. Para isso ele depende de outros fatores. Bolsonaro precisaria chegar sangrando a 2022, quando o país já deverá estar vacinado e a caminho da recuperação econômica.

E Lula teria de desistir da revanche, fazendo mais ou menos o que Cristina Kirchner e Evo Morales fizeram na Argentina e na Bolívia nas últimas eleições. Seria o sonho do pedetista, mas improvável diante das projeções entre popularidade e rejeição dos dois favoritos.

Até aqui, vai se confirmando a aposta de Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão, feita em entrevista ao Yahoo Notícias: as eleições de 2022 serão a reprodução dos versões de “Dois pra lá, dois pra cá”, de Aldir Blanc e João Bosco.

Em outras palavras, estarão em campo dois candidatos à direita e dois à esquerda. Dos quatro, falta um para completar a chave.

João Doria (PSDB), atual governador de São Paulo, nos últimos dias tem reforçado que seu desejo é entrar de cabeça na disputa presidencial como o “pai da vacina”. Para isso, vai ter de brigar dentro do próprio partido, que tem no atual governador gaúcho, o tucano Eduardo Leite, um candidato a herdeiro do figurino de Luciano Huck: jovem, novo (para o restante do país), liberal e razoavelmente imune à rejeição que acompanha as outras opções.

Tem chão até lá, mas as peças começam a tomar posição e se firmar.

Ao que tudo indica, 2022 virá com a decantação das múltiplas candidaturas que marcaram as eleições passadas, da direita à esquerda. Quatro anos depois, a pulverização tem tudo para se converter num embate entre personalismos e um ensaio de frente ampla.

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