Companheira de Lula por quatro décadas, Marisa Letícia tem morte cerebral

Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve morte cerebral na manhã desta quinta-feira 2, em São Paulo, em decorrência de complicações de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) do tipo hemorrágico.

Às 10h29 da manhã, a página oficial de Lula no Facebook anunciou a doação de órgãos de Marisa. “A família Lula da Silva agradece todas as manifestações de carinho e solidariedade recebidas nesses últimos 10 dias pela recuperação da ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia Lula da Silva”, diz a mensagem. “A família autorizou os procedimentos preparativos para a doação dos órgãos.”

Em boletim médico divulgado pouco antes, o hospital Sírio Libanês afirmou que foi realizado pela manhã um “Doppler transcraniano, sendo identificada ausência de fluxo cerebral”. Diante do resultado, com autorização da família, afirmou o hospital, “foram iniciados procedimentos para doação de órgãos”.

O desligamento dos aparelhos, e a confirmação da morte oficial, acontece após o procedimento de doação dos órgãos.

De humilde família de sitiantes, que migraram da Itália para o Brasil, Marisa Letícia nasceu em 7 de abril de 1950 em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Aos nove anos, começou a trabalhar como babá na casa de um sobrinho do pintor Cândido Portinari.

Quatro anos mais tarde, tornou-se operária de uma fábrica de chocolates. Casou-se pela primeira vez com o motorista Marcos Cláudio da Silva, com quem teve um filho. O garoto não chegou a conhecer o pai, assassinado enquanto dirigia o táxi da família. A jovem mãe perdeu o marido enquanto estava no quarto mês de gestação.

Marisa conheceu Lula em 1973, ao ir para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo carimbar documentos da pensão que recebia. O ex-presidente costuma contar que, quando soube que esbelta mulher de 23 anos era viúva, fez questão de deixar cair um documento que mostrava que ele também era viúvo. O episódio serviu de justificativa iniciar a conversa, que não tardou a evoluir para um longevo relacionamento.

Os frutos da união de mais de 40 anos são os três filhos do casal: Fábio, Sandro e Luís Cláudio. O ex-presidente também adotou o primeiro filho de Marisa Letícia, Marcos Lula, que tinha apenas dois anos quando o então líder sindical a conheceu.

Inicialmente avessa à política, Marisa preocupava-se com a segurança de Lula quando eclodiram as greves do ABC Paulista. Em 1980, chegou a liderar uma passeata das mulheres em apoio aos sindicalistas presos no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que integrava o aparato repressivo da ditadura. Nesse mesmo ano, participou de um curso de Introdução à Política Brasileira, promovido pela Pastoral Operária de São Bernardo, e filou-se ao recém-criado Partido dos Trabalhadores.

Dedicada à família, Marisa teve uma atuação discreta nas primeiras disputas eleitorais de Lula. Em 2002, com os filhos já adultos, pôde se dedicar com mais afinco à campanha presidencial do marido. Em 1º de janeiro de 2003, tornou-se primeira-dama do Brasil.

Nos últimos meses, Marisa vinha sofrendo ao lado de Lula a pressão das investigações da Operação Lava Jato. Em dezembro, também ao lado do ex-presidente, foi convertida em ré pelo juiz federal Sergio Moro, sob a acusação de lavagem de dinheiro. De acordo com a denúncia, o casal adquiriu um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo, com recursos da empreiteira Odebrech. A acusação é negada com veemência pela defesa de Lula, que diz que imóvel é alugado.

“A pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que a Marisa chegou. Mas isso não vai fazer eu ficar chorando pelos cantos. Vai ficar apenas batendo na minha cabeça, como mais uma razão para que a luta continue”, desabafou Lula na segunda-feira 30, durante um encontro com representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens. Foi a primeira aparição pública do ex-presidente após a mulher sofrer o AVC.

A evolução da doença
Marisa Letícia sofreu uma forte queda de pressão na manhã de 24 de janeiro. Chegou a receber os primeiros cuidados em um hospital de São Bernardo do Campo, mas logo foi transferida ao Sírio-Libanês, na capital paulista. Ao chegar, foi submetida a uma cirurgia de emergência, para a oclusão de um aneurisma que havia se rompido. Desde então, passou a maior parte do tempo sedada, em coma induzido.

O aneurisma é a dilatação anormal de uma artéria que irriga o cérebro. Ele costuma ocorrer em regiões enfraquecidas da parede de um vaso sanguíneo. Quando ocorre o rompimento, o sangramento pode provocar danos irreversíveis às células localizadas ao redor da lesão.

Fonte: Carta Capital

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