CRÔNICA DE UMA DEBANDADA

Notícias dão conta de que as defecções de lideranças entre prefeitos e vereadores, bem como políticos sem mandato, que até ontem estiveram nas hostes da candidatura Melo, começam a tomar contornos de “salve-se quem puder”.

Uma das piores sensações que o ser humano pode sentir é o de estar sendo abandonado. Nem Cristo escapou dessa cruel realidade. Quando os mais próximos de um líder pressentem que o mesmo não mais poderá realizar seus desejos mais imediatos, é típico do ser humano o afastamento e o abandono desse líder.

Nesse caso, no dizer do poeta e compositor Alceu Valença: “A solidão é fera,/a solidão devora./É amiga das horas prima irmã do tempo,/E faz nossos relógios caminharem lentos,/Causando um descompasso no meu coração”.

Na política, então, esse comportamento parece que se repete com muito mais ímpeto, pois os liderados ficam com o seu líder apenas se dotados de um alto valor de fidelidade, estima e comportamento ético adequado.

Contudo, nestes tempos bicudos que vivemos, o que mais se observa são as lideranças políticas sendo utilizadas de maneira desavergonhada como “escada” para ascensão social, o que as torna “descartáveis” ao sabor das circunstâncias.

Praticamente ninguém escapa disso. Passou a ser um simples “jogo”, calculado segundo os interesses mais mesquinhos.

Contudo, esse comportamento se torna viral quando essas lideranças se sentem utilizadas e percebem que de alguma forma foram enganadas em suas expectativas.

Por isso, o fato de Melo estar sendo “fagocitado” por prefeitos, vereadores e outros sem mandato (mas com certeza pensando em algum), se tornou lugar-comum e acontece em um momento em que as pesquisas demonstram que Braga acabará se elegendo em primeiro turno. Isso está sendo um fator preponderante para a “revoada”.

Os versos o poema Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos que diz que “a mesma mão que afaga é a que apedreja” serve como uma luva para descrever esse tipo de comportamento. Há outra que diz que “trair e coçar é só começar”.

Para um “coitado” como Melo que jamais imaginou chegar aonde chegou, ao governo do Estado – simplesmente o maior cargo político almejado por qualquer político – da forma como o fez, isto é, servilmente, como estafeta do poder que se arremetia ao interior do Estado a fim de cumprir a agenda do governador, como um bom títere, não é nada fácil justamente se postar como o manipulador dos fantoches. Falta-lhe traquejo, arte, dissimulação, discurso.

Com esse perfil acabará sozinho na ribalta, tendo de apagar as luzes e fechar as cortinas.

“O grande inconveniente da vida real e o que a torna insuportável ao homem superior é que, se se transferirem para ela os princípios do ideal, as qualidades tornam-se defeitos, de modo que, muito frequentemente, o homem completo tem bem menos sucesso na vida do que aquele que se move pelo egoísmo ou pela rotina vulgar.”.

Melo: o triste fim de ‘Policarpo Quaresma!

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