Reinaldo Azevedo – A histeria para manter Lula na cadeia, revela o Datafolha, é muito menor entre os brasileiros do que fazem supor grupos de pressão no Congresso, no Judiciário e no governo — além, claro!, dos grupelhos de extrema-direita que foram protestar na Paulista neste domingo: meia-dúzia de histéricos, além de dublês de políticos e celebridades de Internet.
Consideram justa a soltura do ex-presidente 54% dos ouvidos, contra 42% que a veem como injusta. O nome do petista evidencia, assim, mais uma vez, grande resiliência. Olhem que está enfrentando nada menos do que a campanha cotidiana de Sergio Moro, que dá plantão na imprensa e nas redes sociais. Em julho, 54% afirmaram que sua prisão era justa, contra 42% que a viam como injusta.
Outro dado curioso: mesmo recém-saído da cadeia, as pessoas acreditam mais nas palavras de Lula do que nas de Bolsonaro: dizem sempre confiar no que diz o petista 25% dos ouvidos; no caso do “Mito”, apenas 19%. Nunca confiam no que afirma o ex-presidente 37%; já o atual fica com 43% no quesito negativo. Confiam às vezes no líder petista 36%; nesse caso, Bolsonaro marca 37%.
O apoio à liberdade de Lula é relativamente alto em todos os estratos, exceção feita aos empresários (apenas 29%) e mais ricos (acima de 10 mínimos): 38%. Chega a 47% do Sul e Sudeste, a 45% entre os brancos e também entre os de ensino superior e a 51% entre as mulheres.
Mas atinge espantosos 71% no Nordeste, marca 68% entre os desempregados, 63% entre os que ganham até dois mínimos, 62% entre os pretos, 61% entre os que têm o ensino fundamental e 61% entre os jovens de 16 a 24 anos.
Os números evidenciam que a tal tese do trânsito em julgado depois da condenação em segunda instância é uma nota de R$ 13 com efígie de Lula. Não se trata de uma tese, mas de um esforço de devolver o petista para a cadeia. Virou disputa política.
Certamente há muita gente surpresa com os números, depois de todo o terrorismo que se fez com a decisão tomada pelo Supremo. Como se nota, o presidente Jair Bolsoanro não precisará organizar operações de Garantia da Lei e da Ordem, acompanhadas de excludente de ilicitude, para conter distúrbios sociais, a opor, num confronto sangrento, os que querem Lula preso e os que pretendem que permaneça em liberdade. Até porque, reitere-se: até agora, só a extrema-direita babona falou em sangue.
Os números evidenciam ainda que erram aqueles que estão sentindo falta do “radicalismo” de Lula — à esquerda e à direita. Radicalismo agora para quê? O bom senso indica que é hora de apostar na normalidade e em ânimos serenados. Essa pesquisa Datafolha — que não inventa números, mas registra o que dizem os brasileiros — faz pelo ajuste dos discursos e acomodação das pretensões e utopias muito mais do que um comício para milhares de pessoas.
Não tomem como coisa corriqueira um ex-presidente que deixa a cadeia gozar de mais confiança da população do que o atual, com a caneta na mão e uma máquina gigantesca de propaganda. Lembrando sempre que Lula tem contra si a mais poderosa engrenagem de destruição de reputações da história: a Lava Jato.
No domingo, ninguém compareceu ao chamamento dos extremistas circenses de extrema-direita para enforcar ministros do Supremo com as tripas dos presidentes da Câmara e do Senado — apesar dos 53% que aprovam o trabalho de Sergio Moro — e notem que 54% acham ser justa liberdade de Lula, condenado pelo juiz que sempre se comportou como político. Até sair do armário de vez.
Isso não quer dizer, é claro, que a turma que resolveu transformar a política em delegacia de polícia vá descansar.