Passada a campanha eleitoral, fontes garantem que prefeito de Manaus cobra fatura do governador Wilson Lima e pede o comando de cinco secretarias, dentre elas a Secretaria de Fazenda
MANAUS/AM – A relutância do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), de apoiar o governador Wilson Lima (União Brasil), na campanha de reeleição, foi uma forma de valorizar o seu passe, que agora mostrou que terá um pesado custo para o governo e para a população do Amazonas. O chefe do poder executivo da capital pede o controle de cinco pastas, dentre elas a galinha dos ovos de ouro de qualquer governo, a Secretaria de Estado da Fazenda. A fonte garante que ele quer a chave do cofre.
Após celebrar a vitória no segundo turno das eleições, a vida do governador não tem sido fácil à medida que precisa contemplar muitos apoiadores com cargos e/ou contratos. Um dos ‘cobradores’ mais vorazes tem sido o prefeito David Almeida, que não quer apenas colocar um aliado em qualquer pasta de menor importância dentro do organograma do governo. O prefeito quer literalmente ficar com o comando da pasta de maior relevância do estado, colocando como secretário de Fazenda, o vice indicado por ele na chapa vencedora. Tadeu de Souza cuidaria da receita e, principalmente, da despesa do estado.
O poder executivo do Amazonas, de janeiro até hoje, tem receita realizada de R$ 26,7 bilhões, sendo que empenhou despesas que totalizam R$ 23,07 bilhões e autorizou R$ 28,02 bilhões. Mesmo que o estado ainda apure até o final de dezembro, mais R$ 2 bilhões, ainda não conseguirá equilibrar receita com o valor autorizado somente pelo executivo, sem considerar os demais poderes (Legislativo e Judiciário) e o Ministério Público.
O atual secretário de Fazenda, Alex Del Giglio, funcionário de carreira da Sefaz/AM, adotou uma estratégia para se blindar de possíveis direcionamentos de recursos públicos, que costumam deixar autoridades em ‘saia justa’ no Tribunal de Contas. Deixou a cargo do gestor de cada órgão a gestão do seu próprio orçamento. À Sefaz, na administração de Alex, gerencia apenas a sua receita, não intervindo nas demais.
Isso é inédito no Amazonas. Até então, todos os demais secretários, em rotineiras reuniões com o governador da época, acertavam que pasta receberia suplementação de verba (recursos adicionais), quem perderia recursos. O próprio secretário assinava esses remanejamentos sem burocracia e com rapidez para atender a determinação do governador. A chegada de Tadeu de Souza, que era chefe da Casa Civil da Prefeitura de Manaus e é por formação advogado, pouco acrescenta à Sefaz/AM à medida que ele não entende o fluxo da arrecadação, nem os procedimentos em andamento como a luta pela permanência do diferencial tributário da Zona Franca de Manaus. O único aspecto positivo é apenas para David Almeida e dos seus aliados.
Construção do apoio
Wilson Lima fechou o ano de 2021 com chances remotas de se manter na cadeira de governador. Conforme pesquisa do Instituto Perspectiva e Mercado, divulgada no final do ano passado, 42,4% dos eleitores amazonenses reprovavam a gestão do apresentador paraense, que estrou na política conquistando o maior cargo do poder executivo estadual. A pesquisa realizada em Manaus e nos 20 maiores colégios eleitorais do estado com 3,6 mil pessoas revelou que apenas 5,6% dos eleitores consideravam a gestão ótima.
O maior entrave estava na memória dos habitantes, em especial os da capital, dos eventos desastrosos, que ocorreram no Amazonas durante a pandemia por causa da falta de planejamento, experiência e ação proativa por parte do governador e de sua equipe, em grande parte composta por líderes sem conhecimento na pasta que ocupavam. No caso da Secretaria de Saúde, o troca a troca de dirigentes, inclusive, com a prisão de alguns prejudicou o andamento dos trabalhos e colocou dúvida sobre a lisura dos procedimentos. O governador ganhou as manchetes ao se tornar réu no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por fraude na compra de respiradores.
A forma encontrada para conquistar os votos dos eleitores da capital foi a aliança com o prefeito David Almeida, cuja assessoria de comunicação divulgava que a gestão detinha mais de 80% de aprovação (número questionado por especialistas já que contabilizava entre os eleitores satisfeitos, os que deram nota regular para a administração).
Após a contagem dos votos no 2º turno, o Tribunal Regional Eleitoral divulgou que Wilson Lima, obteve na capital cerca de 200 mil votos a mais do que seu adversário, Eduardo Braga (MDB). É claro que o prefeito atribuiu a si este êxito, quando, na realidade, os especialistas afirmam que o fator decisivo para a vitória na capital foi a colagem da imagem do governador ao presidente da República, Jair Bolsonaro. Sendo assim, o mais importante peso político na capital foi o Coronel Menezes, que disputou o Senado no 1º turno, obtendo mais de 737 mil votos e foi o principal cabo eleitoral do presidente no Amazonas, estando presente no palanque do governador durante todo o 2º turno. Se alguém quisesse cobrar a fatura, colocando a Sefaz na mesa de negociação pelo apoio que garantiu a vitória do governador, este seria o Coronel Menezes e não o prefeito, que está ficando conhecido pelo temperamento incontrolável, que o digam os professores.