A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a paralisar as atividades no início do pregão de hoje (18). As operações foram suspensas por meia hora a partir do mecanismo do circuit breaker, que amortece movimentos bruscos do mercado. A paralisação acontece sempre que o Ibovespa cai mais do que 10%. Na abertura desta manhã, ele chegou aos -10,6%.
No início da tarde, a bolsa ainda operava em baixa de -9,18%. No entanto, uma nova interrupção, dessa vez de uma hora, só deve ocorrer se o pregão cair abaixo de 15%. O instrumento acionado hoje não era usado desde outubro de 2008. Em caso de uma terceira queda, ultrapassando os -20%, os negócios podem ser suspensos por tempo indeterminado, a critério da direção da bolsa.
Segundo o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP), Roy Martelanc, a queda está diretamente ligada às denúncias que atingiram o presidente Michel Temer na noite de ontem (17). “No curto prazo, esse tipo de notícia nunca é boa para os mercados. Você está em em uma fase ascendente, de recuperação econômica, a bolsa antecipa a recuperação que está vindo aí. Agora, vem essa turbulência e as pessoas reavaliam se vão fazer investimentos”, explicou em entrevista à Agência Brasil.
No início da noite de ontem (17), o jornal O Globo publicou reportagem relatando o conteúdo do acordo de delação premiada firmado pelo dono do grupo JBS, o empresário Joesley Batista, com o Ministério Público Federal (MPF). Segundo a reportagem, o empresário entregou um áudio gravado durante um encontro com Temer em que o presidente sugeriu que Batista mantivesse o pagamento de uma mesada ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e ao doleiro Lúcio Funaro para que esses ficassem em silêncio.
Ainda ontem (17), a Presidência da República divulgou nota na qual informa que o presidente Michel Temer “jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha”, que está preso em Curitiba, na Operação Lava Jato.
Consumo e reformas
Apesar do impacto imediato, Martelanc acredita que os efeitos das turbulências podem ser positivos no futuro. “No longo prazo, quanto mais limpo for o sistema político, melhor. Se você limpa uma parte do sistema político, a tendência é que o Brasil saia fortalecido”, acrescentou.
No entanto, o clima de incerteza política pode, na avaliação do especialista, agravar a crise econômica enfrentada pelo país. “O pessoal avalia se vai ou não consumir. Se a pessoa está insegura, ela dá uma travada no seu consumo, especialmente nos bens mais duráveis. Menos consumo significa menos renda para as empresas, menos produção e menos emprego”, ressaltou.
No entanto, o comportamento do mercado será guiado, na opinião de Martelanc, mais pelo andamento das reformas da Previdência e Trabalhista no Congresso Nacional, do que pela crise política. “Tem uma aposta grande do mercado nessas reformas. Se elas não sofrerem, não tem grandes impactos”, afirmou o professor.