Por José Ribamar Bessa Freire*
“As más companhias são como um mercado de peixe; acabamos por nos acostumar ao mau cheiro”. (Lao-Tse)
Marcelo militava no PCdoB quando presidiu o Centro Acadêmico de Direito da Universidade Federal do Amazonas. Era um bom menino, não fazia xixi na cama. Depois, em 2004, foi eleito suplente de vereador em Manaus. Tinha, então, 31 anos. Sua combatividade nos enchia de esperanças. Conquistou, em 2010, mandato de deputado estadual pelo PSB. De lá para cá, trocamos emails, ele me enviava seus artigos publicados neste Diário do Amazonas. Acompanhei sua carreira que reacendia nossas esperanças. Até que, agora, para disputar a prefeitura, mudou de companhia.
Quem são seus parceiros atuais? Todos aqueles que ele combatia, tudo ficha suja, a começar pelo Partido da República que o abrigou: o PR (vixe, vixe), presidido pelo deputado Alfredo Nascimento, o Cabo Pereira.
CABO PEREIRA – Três vezes prefeito de Manaus, uma delas como interventor, o ex-cabo da Aeronáutica foi acusado de improbidade administrativa. Ministro dos Transportes três vezes, na última perdeu o cargo ao descobrirem cobrança de propinas, fraudes em licitações e superfaturamento de preços. O Ministério Público Federal investiga o enriquecimento de seu filho Gustavo Pereira, cuja empresa criada em 2005 com capital de R$ 60 mil teve o patrimônio elevado a R$ 52 milhões. “Tenho muito a aprender com o Alfredo Nascimento”, declarou Marcelo Ramos, sem explicar o quê, mas a gente desconfia.
AMAZONINO, o Berlusconi da floresta, três vezes prefeito, duas vezes governador, entrou paupérrimo na vida pública e ficou podre de rico. A OAB questionou sua candidatura à Prefeitura de Manaus, em 2008, pelo PTB (vixe Maria!), pois ele respondia a processos na 2ª Vara da Justiça Federal de crimes da lei de licitações, contra o sistema financeiro nacional e contra ordem tributária. Foi acusado de ser comprador de votos para a emenda da reeleição de FHC com pagamento de 200 mil reais para cada deputado, o que era intermediado pelo deputado Pauderney Avelino, segundo a Folha de SP.
PAUDERNEY, o homem da mala, seis vezes eleito deputado federal, vice-presidente do DEM (viiiiiiiixe), foi citado nas gravações de conversas vazadas na Operação Lava-Jato. A notícia “Escândalo no Congresso” (O Globo, maio 1997) registrou o loteamento do Amazonas por empreiteiras, entre elas a Construtora Capital da qual é sócio. Cunha de igarapé, Maluf de Eirunepé, Pauderney “decidiu ser honesto” recentemente, após ser multado pelo TCE em R$ 4,6 milhões por alugar prédios superfaturados para sediar escolas, quando foi secretário de educação em Manaus.
OMAR AZIZ – Na qualidade de vereador de Manaus, se envolveu no escândalo dos ressarcimentos médicos. Eleito duas vezes vice-prefeito na chapa do Cabo Pereira, foi vice-governador de Eduardo Braga, e assumiu em 2010, quando Braga foi disputar o Senado. Reeleito governador, foi citado na Lava Jato por Clóvis Peixoto e Rogério Sá, executivos da Andrade Gutierrez, que revelaram terem pago propina de R$ 18 milhões, Omar queria R$20 milhões. Renunciou para concorrer ao Senado, deixando nele o vice-governador José Melo, outro apoiador de Marcelo.
JOSÉ MELO MERENDA – Completou o mandato de Omar e se elegeu governador pelo PROS (vixe, vixe). Ex agente da Assessoria de Informação da UFAM, delatou estudantes e professores na época da ditadura. O apelido de Merenda surgiu da denúncia do então deputado Luis Fernando Nicolau que revelou o desvio de duas mil toneladas da merenda escolar, no valor, então, de R$ 6 milhões, o equivalente a 215 caminhões carregados de alimentos. Acusou diretamente o governador Amazonino e seu secretário de educação José Melo como responsáveis pelo desfalque. Melo foi denunciado ainda por compra de votos em 2014.
SILAS CÂMARA, o Crivela de Igarapé, pastor da Assembleia de Deus, eleito cinco vezes deputado federal, chegou a ser declarado inelegível pelo TRE por abuso de poder econômico nas eleições de 2010. Responde a dois inquéritos por corrupção eleitoral, um deles envolve alunos da Fundação Boas Novas, o outro por embolsar salários de assessores de seu gabinete, contratados como fantasmas. Foi condenado a 8 anos de prisão por falsidade ideológica pelo STF por uso de documento falso, não foi preso porque prescreveu. Candidato derrotado no primeiro turno, para apoiar Marcelo exigiu manutenção no calendário cultural de Manaus de eventos da Assembleia de Deus e compromisso com a escola sem partido.
O MAU CHEIRO – O lema da campanha de Marcelo é: “PR/PT do B/PTC /PEN/PSD/PROS/DEM – Mudança para transformar. Tem dinheiro, dá para fazer”.
– “Peço a vocês uma chance, uma chance de virar a página na vida de Manaus” – disse o candidato a prefeito de Manaus, Marcelo Ramos, no debate na TV com o seu opositor Arthur Virgilio Neto.
Transformar o quê? Com essa escória política? Conversa fiada. Lero-lero. A página, que está sendo virada é para trás, já foi lida. Dá pra fazer o quê com o dinheiro? O que seus aliados fizeram? Como é que Marcelo Ramos conseguiu reunir em torno dele gente de tal calibre? Ali, só se salva o Serafim. Trata-se de oportunismo deslavado do candidato Marcelo Ramos, refém do que existe de mais atrasado e podre na política amazonense. Agora ele faz parte da curriola. Quem votar nele deve estar consciente que está votando nesses aliados e entregando o poder municipal aos que fizeram rodízio na Prefeitura. Quem vota em caba é porque quer se ferrar.
Suspeito que Marcelo Ramos ganharia muito se tivesse seguido os conselhos da Bíblia e não o velho chinês Lao-Tse. O pastor Silas, que conhece a Bíblia, escondeu de seu aliado a epístola de Paulo aos Coríntios: “Não se deixem enganar. As más companhias corrompem os bons costumes”(1 Coríntios 15, 33). O fedor das más companhias, a gente sente de longe, como quando chegamos no pavilhão do peixe do Mercado Adolpho Lisboa. Mas Lao-Tse afirma que “as más companhias são como um mercado de peixe; acabamos por nos acostumar ao mau cheiro”. Marcelo já se acostumou com o pitiu aliado.
*Publicado originalmente no site Taquiprati e no jornal Diário do Amazonas