À julgar pelas declarações do presidente da Câmara Municipal de Manacapuru (AM), vereador Francisco Bezerra (PSC), pelo menos 10 mil pessoas, assentadas em uma área de terra contínua, entre os quilômetros 17 e 48, estrada de acesso à Novo Airão (AM), correm o risco de serem expulsas de suas posses em favor de uma única pessoa: o proprietário da empresa Agroindustrial.
A tentativa de expulsá-los da terra não é nova e remonta, conforme lembrou Bezerra, há quase meio século, com várias tentativas de desapropriação.
Nesse período, afirma o vereador, nada, absolutamente nada, sequer um único pé de chicória, foi plantado no latifúndio pretendido por aqueles que se julgam donos da terra por serem detentores da titularidade contestada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Na iminência de uma nova reintegração de posse, o destino de mais de 2 mil pessoas foi discutido, quarta-feira, 18, em audiência pública, na Câmara Municipal, convocada pelo vereador Francisco Bezerra.
Mesmo sem a presença dos senadores amazonenses, deputados federais estaduais – todos previamente convidados para o evento -, a audiência foi realizada sob pesada atmosfera, permeada de muita emoção, revolta e indignação.
“Não é justo que o governador José Melo ignore o direito de tanta gente que luta há tanto tempo pela manutenção da posse, pelo incremento da produção e pelo desenvolvimento sustentável do município e do estado. O que faz o governador para defender os nossos direitos? O governador não teve o carinho com as pessoas que nele votaram”, lamenta um dos oradores e líder da comunidade de Manairão, Ediraldo Sampaio.
Durante mais de quatro horas de debates acalorados várias pessoas ocuparam a tribunal da Câmara Municipal para defender os produtores e suas famílias, responsáveis por significativa parcela da produção olerícula, de pescado e de frutas do município.
Nem mesmo o representante da empresa Agroindustrial, advogado Miquéias Fernandes, ex-deputado estadual, esboçou qualquer argumentação contrária aos interesses dos produtores da área em questão. Ao contrário, ele disse que a solução é Brasília e que o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) é o caminho mais curto para a garantir o direito dos trabalhadores à terra.
No final do encontro, o presidente da Câmara Municipal assegurou que, junto com uma comissão, irá à Brasília levar às autoridades competentes as reivindicações dos produtores rurais.
Além do represente do Incra, Ipaam, do advogado da Agroindutrial, representante do prefeito Jaziel Nunes Alencar Tororó, da prefeita de Iranduba, Maria Madalena, participaram da audiência pública os vereadores Maria Izabel, Wanderley Barroso, Capela, Elmênio, Gerônimo, o vice-presidente da Câmara, Zalém, além de várias lideranças rurais.