Um encontro entre a atriz Ellen Page (Juno, Inception, Tallullah) e Jair Bolsonaro em 2016 voltou a se popularizar nas redes sociais. O protagonista da entrevista pode se tornar presidente do Brasil nas próximas semanas —se ganhar o segundo turno em 28 de outubro, depois de ter conquistado 46% dos votos no primeiro—, embora se mostre como uma pessoa abertamente racista, homofóbica, machista e sexista. Em menos de um dia desde 11 de outubro, o vídeo compartilhado pela socióloga argentina Victoria Freire teve mais de 300.000 visualizações no Facebook e quase 400.000 no Twitter.
Recomiendo esta entrevista de @EllenPage a Bolsonaro, el candidato fascista de Brasil. Sin ningún pudor y con total naturalidad, muestra su homofobia y misoginia. Se va a caer! #EleNão pic.twitter.com/0EDsde8fjy
— Vicki Freire (@vicki_freire) October 11, 2018
“Recomendo esta entrevista de Ellen Page a Bolsonaro, o candidato fascista do Brasil. Sem nenhum pudor e com total naturalidade, mostra sua homofobia e misoginia”.
A entrevista feita por Page faz parte da série de documentários chamada Gaycation, uma produção da Vice transmitida pela National Geographic, que explora a cultura LGBTI+ em diferentes partes do mundo. Apresenta histórias de pessoas relacionadas a essa comunidade, que falam sobre suas vidas e as dificuldades de ser LGBTI+ em países como Ucrânia, Japão, Estados Unidos, Jamaica ou França. Assista aqui à entrevista completa.
Conhecido por suas declarações polêmicas e abertamente violentas sobre os homossexuais, Jair Bolsonaro afirmou que preferiria que seu filho morresse a que fosse gay. “Será interessante ter uma discussão honesta para entender por que é tão difícil para ele aceitar pessoas LGBTI+”, diz Page para a câmera antes de entrar no escritório do político.
“Li uma declaração sua dizendo que as pessoas deveriam tirar o gay que existe em seus filhos na porrada. Eu sou gay e pergunto: deveria ter apanhado quando era criança para que não fosse gay?”, diz Page a Bolsonaro .
“Não vou olhar para ela e pensar: Acho que é gay. Você é linda. Se fosse um cadete na academia militar e te visse na rua, assobiaria”, diz Bolsonaro sorrindo. “Me acusam de ser um grande homofóbico e estão equivocados. Minha luta sempre foi e será contra a distribuição de material LGTBI+ nas escolas para crianças com mais de 6 anos”, acrescenta o brasileiro em outro momento da entrevista. O que o presidenciável chama pejorativamente de “kit gay” diz respeito, na verdade, ao material didático Escola Sem Homofobia, uma cartilha impressa e audiovisual cujo principal objetivo é promover “valores de respeito à paz e à não-discriminação por orientação sexual”.
No tenso encontro com Page, as afirmações homofóbicas continuam. “Quando eu era jovem, havia poucos gays. Com o tempo, devido às liberdades, às drogas e com as mulheres trabalhando, o número de homossexuais aumentou muito”, diz o candidato.
“Se seu filho está com pessoas de certo comportamento, ele se comportará da mesma forma e acreditará que é normal”, diz Bolsonaro. “Acho que é esse o ponto. O senhor vê isso como algo anormal”, responde Ellen Page. “Diz que deveriam bater nos filhos gays e que prefere um filho morto em vez de homossexual”, espeta.
O ultradireitista se defende sem responder ao comentário da atriz. “Quando um filho é muito violento, se você o corrigir, deixará de ser violento. Se encorajá-los quando crianças dizendo que isso e aquilo é normal, seja qual for a normalidade, a criança fará isso”, acrescenta também o ex-militar. “Bolsonaro é um político com grande poder e influência”, diz Page na série. “É devastador saber que alguém com tanta influência tenha tanto desdém pela comunidade queer”, lamenta.
Depois de obter 46% dos votos no primeiro turno, Bolsonaro se apresenta como o candidato forte no segundo. Apesar disso, um grande grupo da sociedade se manifestou contra ele e o retrocesso de liberdades que representa. Um exemplo disso é o movimento #EleNão, que reuniu centenas de milhares de pessoas, principalmente mulheres, nas ruas.