O avião da VoePass que caiu em São Paulo no dia 9 de agosto perdeu sustentação, conforme o relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), logo após iniciar uma curva de 32 graus à direita. A manobra foi autorizada pelo controle de voo e é um procedimento normal.
O motivo da alteração da direção era o tráfego aéreo. O ATR-72 estava a 17 mil pés, mas no mesmo sentido de uma aeronave da Latam, que voava a 15 mil pés. Como o ATR-72 foi autorizado pela torre de controle a fazer a descida para o pouso, era necessária a mudança de direção, orientada pelo controlador.
O aviador da reserva da Força Aérea Brasileira (FAB) e especialista em Segurança Operacional Fernando Siqueira analisou as informações do relatório do Cenipa, apresentadas nesta sexta-feira (6/9). Para ele, o gelo e o não funcionamento do sistema antigelo é a hipótese mais provável para o desfecho trágico do voo.
“(Os pilotos) ligaram o sistema antigelo e, segundo as informações do Cenipa, o sistema não funcionou como deveria. Eles ligaram e desligaram algumas vezes o sistema antigelo e não funcionou como deveria”, afirma Siqueira. O relatório aponta que o dispositivo foi acionado três vezes e desligado duas, sendo que estava acionado até o momento da colisão com o solo.
O especialista explica que o gelo pode interferir na sustentação dos aviões. “As aeronaves funcionam com questão aerodinâmica, ou seja, tem de haver perfeita fluidez das correntes de vento por debaixo e por cima da asa, de forma que tenha resultantes positivas e traga sustentação da aeronave: que a pressão de baixo das asas seja maior do que a pressão por cima das asas.”
Para ele, mesmo com gelo, mas com as asas niveladas, o ATR-72 se mantinha sob controle, o que mudou com a curva que era necessária. “Quando ela curvou à direita, para proar (posicionar) na direção “Sampa” (um ponto específico no caminho do pouso) e iniciou a descida, a sustentação da aeronave mudou. Ela perde sustentação e efetua uma curva brusca à esquerda. Certamente, os pilotos reagiram à esta perda de sustentação, iniciaram uma curva à direita e, após isto, (começa) o parafuso”, detalha ao descrever a situação de “parafuso-chato“, na qual o avião roda no ar.
O relatório do Cenipa apurou que a aeronave decolou de Cascavel (PR) em condições normais de voar. No entanto, um dos pilotos comentou, logo após a decolagem, sobre o não funcionamento do sistema de proteção contra gelo. Além disto, durante o trajeto, há um momento em que um deles diz “bastante
A informação de áudio dos pilotos sobre a suposta inoperação do sistema antigelo, diz o Cenipa, não corrobora com os dados do computador de voo, recuperados em uma das caixas-pretas. O Cenipa busca esclarecer se, durante o voo, o sistema de proteção contra gelo funcionou com eficácia.
“Existiam diversos computadores que estavam preservados, apesar, é importante lembrar que isto é fruto de um acidente aeronáutico, material retorcido. É um material de futura análise (os computadores) que poderá ou não, estando disponível, aprofundar a nossa investigação se estes sistemas estavam ou não efetivamente funcionando no voo que levou ao acidente”, afirmou o chefe do Cenipa, brigadeiro do ar, Marcelo Moreno.
O relatório do Cenipa conseguiu estabelecer até o momento a dinâmica da queda. Agora, o foco se volta pra questões como o funcionamento da proteção contra gelo e o motivo de cada ação dos pilotos, controladores de voo, entre outros detalhes.
O avião modelo ATR-72, da Voepass, partiu, em 9 de agosto, de Cascavel (PR) às 11h46 e tinha como destino o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, às 13h40. Porém, perdeu sustentação em voo e colidiu com o solo às 13h22, em Vinhedo (SP). Morreram 62 pessoas.