Filho de Solimões discorda de Rodolffo do BBB21: “Interior não é um lugar de preconceito”

O músico Gabeu, filho do cantor Solimões, é a prova da falsidade do estereótipo que rotula os interiores brasileiros como redutos únicos de posturas conservadoras e heranças colonialistas como o racismo, a misoginia e a LGBTQ+fobia. 

Um dos criadores do “pocnejo”, sertanejo visto pelo olhar da comunidade gay, Gabeu conversou sobre o comportamento do sertanejo Rodolffo no ‘BBB21’, e a insistência do brother em dizer que suas falas preconceituosas são fruto de falta de aprendizado e uma infância no interior de Goiás. No jogo da discórdia desta segunda-feira (06), João Luiz enfrentou Rodolffo após o cantor comparar seu cabelo afro com uma peruca de homem das cavernas, e chegou a chorar quando o sertanejo invalidou o trauma que sofreu.

“Quando eu penso que o sertanejo já foi uma voz que cantava a valorização da natureza, as dores dos trabalhadores, vejo como é contraditório com o que temos visto da cena hoje em dia”.

“Infelizmente, “Rodolffos” não são casos isolados no Brasil, o que me incomoda mais é o uso de uma identidade cultural para justificar toda série de preconceitos, com falas como ‘eu sou um homem do interior, chucro, criado assim, meu avô era assim, meu pai era assim’. A desigualdade está completamente ligada ao acesso à informação, mas independente do lugar que nascemos e crescemos, é inaceitável que usemos isso como desculpa para propagar qualquer tipo de intolerância. E mais que isso, estar disposto a aprender não significa tornar pessoas pretas e LGBTQIA+ coachs de diversidade, muito menos tentar justificar as nossas falas com ‘mas o cabelo do meu pai, a minha tia é negra, meu sobrinho é gay'”, explicou Gabeu.

Para o músico, o problema não é o sertanejo, estilo que abarca inúmeros tipos de cultura e discursos, e sim a apropriação do estilo feita por homens preconceituosos. “Quando eu penso que o sertanejo já foi uma voz que cantava a valorização da natureza, as dores dos trabalhadores, vejo como é contraditório com o que temos visto da cena hoje em dia. O sertanejo nasce de um lugar muito genuíno, numa época em que ser caipira era de fato visto como algo negativo, e existem músicas que são verdadeiras obras de arte. Os interiores do Brasil são plurais, cheios de diversidade de pessoas, culturas e valores e isso não pode ser negligenciado, nem manchado pelo mau-caratismo de alguns”.

Em seu Instagram, Gabeu já havia se posicionado sobre as falas racistas e homofóbicas de Rodolffo no ‘BBB21’, e declarou que torce pela saída do sertanejo no paredão entre ele, Caio e Gilberto. O cantor explicou que a visão de que o campo é um lugar unicamente de preconceito não passa de um estereótipo, e que o problema de Rodolffo é não se educar.

“Os interiores do Brasil são plurais, cheios de diversidade de pessoas, culturas e valores e isso não pode ser negligenciado, nem manchado”

“O interior tem seus problemas em relação a costumes, tradições e discursos retrógados? Sim. Devemos normalizar isso e aceitar que quem vem do interior automaticamente é chucro e ignorante? De jeito nenhum”, disparou. 

Um dos criadores do “pocnejo”, Gabeu estreou com o single ‘Amor Rural’, feito ao lado do namorado Well Bruno. 

Sobre o estilo, Gabeu afirmou que o sertanejo tradicional continua vivo em sua música, apenas atualizado em questões de diversidade e temáticas. “O ‘pocnejo’ é o sertanejo, bebe das mesmas fontes, tem toda aquela sofrência, fala de amor, de bebedeira, só que por outro olhar, outro locutor. É pelo olhar do viado, da bicha, da poc, do gay. São outros tipos de histórias, outras narrativas, que a gente não encontra no sertanejo tradicional”.

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