O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL/RJ) disse não ter dúvida de que continuará recebendo ameaças enquanto a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ) não for esclarecida. Ainda assim, disse que não tem razão para acreditar que o suposto plano para mata-lo tenha vindo do mesmo grupo que assassinou a vereadora. Na última quarta-feira (14), Freixo recebeu a informação de que seria morto durante evento neste fim de semana.
“Se nós não descobrirmos quem mandou matar Marielle e porque mandou matar, isso significa dizer que um grupo político pode ter a violência como método, um grupo político pode, se contrariado, matar. Talvez eles descubram que podem matar não só uma juíza, não só uma deputada, não só uma vereadora, mas podem matar um promotor, uma jornalista, podem matar outros. Basta que seus interesses sejam ameaçados”, afirmou.
Freixo também criticou a declaração do secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, general Richard Nunes, em entrevista publicada nesta sexta-feira (14) no jornal O Estado de S. Paulo, que atribuiu a morte de Marielle Franco a milicianos interessados na grilagem de terrenos na zona oeste do Rio. O deputado estadual disse que não interessa mais declarações de autoridades sobre as possíveis causas e que o secretário deveria esclarecer o crime e não falar de possibilidades.
“É por isso que a gente tem que saber quem marcou Marielle. É por isso que é inadmissível, nove meses depois [do assassinato da vereadora], se dar declarações de efeito para ganhar tempo”, afirmou em entrevista na presidência da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). E continuou: “São nove meses de investigações. É tempo de apresentar provas e concluir o caso. A gente também não quer que, no final do ano, no afogadilho, do final da intervenção, seja apresentado qualquer resultado. Isso também não é aceitável”.
CPI das Milícias
Freixo afirmou que é muito ruim a sensação de receber uma denúncia de um ataque de morte, justamente na semana em que a CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio completa 10 anos. A denúncia foi revelada ao parlamentar pela Ouvidoria da Assembleia Legislativa, após ser recebida pelo serviço Alô Alerj. Em seguida, Freixo comunicou o fato à Secretaria de Estado de Segurança, onde teve uma reunião com o serviço de inteligência. A agenda prevista para o bairro de Campo Grande, zona oeste do Rio, foi cancelada.
A CPI das Milícias, que tinha Freixo como presidente, terminou em novembro de 2008 com 226 indicados. Entre eles, políticos, policiais militares, agentes penitenciários e integrantes das Forças Armadas. No entanto, descartou a possiblidade de a morte de Marielle ser resultado do trabalho na CPI, quando era assessora, ou pela atuação dela contra as milícias, já durante o mandato.
“A Marielle não teve, no curto período que exerceu a vereança, que foi apenas um ano e três meses, uma atuação destacada em áreas de milícias. Ela não estava à frente de nenhuma CPI ou investigação. Houve um trabalho de sua assessoria de regularização fundiária de uma determinada região que não foi concluía, mas não foi ela. É claro que isso tem que ser investigado”, disse.
Desde o fim da CPI das Milícias, o deputado é acompanhado por uma escolta de segurança. Ele afirmou que pretende continuar com o mesmo grupo, o qual já conhece como atua. Em fevereiro, Freixo, que foi eleito deputado federal, começará a trabalhar em Brasília. O parlamentar não acredita que precisará mudar a equipe de escolta por policiais federais, porque pretende contar em Brasília com a proteção da Polícia Legislativa da Câmara Federal.
Morte de defensores
Freixo destacou que o Brasil é um dos países que mais tem defensores de direitos humanos assassinados no mundo, perdendo apenas para as Filipinas. É também o país em que mais morrem policiais. Na visão dele, isso é resultado de uma concepção de segurança pública que entende que a defesa de direitos humanos atrapalha a segurança pública. “Defensor de direitos humanos não é defensor de bandido. Pelo contrário, os bandidos querem matar os defensores de direitos humanos. Isso ficou claro dessa vez”, observou.
“Essa cultura que opõe direitos humanos e a segurança pública faz a gente ter um número enorme de defensores de direitos humanos sejam autoridades públicas ou não, ameaçados e mortos, e tem também um número enorme de policiais mortos. Isso a gente precisa acabar”, afirmou.
Segundo Freixo, o Rio de Janeiro tem regiões ocupadas por milícias que impedem a liberdade dos moradores. “O domínio de território também é feito pelo tráfico, que é tão perverso quanto a milícia, mas a milícia é um dos poucos grupos que transformam domínio territorial em domínio eleitoral. Por isso, a milícia interessa a muita gente para além da milícia. Por isso a milícia não é tão enfrentada como deveria ser. Por isso que, dificilmente, algum governador oferece um plano para enfrentar e reduzir o poder das milícias”, indicou.
Agência Brasil