247 – O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, responsável pela decisão que acabou abrindo as portas para o golpe que derrubou Dilma Rousseff em 2016, quando impediu que o ex-presidente Lula fosse nomeado ministro da Casa Civil, justificou sua decisão nesta segunda-feira 9, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Ele explica que “as informações disponíveis na época permitiam concluir que havia um viés de fraude na nomeação”. O ministro disse ainda ser “muito estranho que somente um pedaço do fato e não sua inteireza tenha sido divulgado à época”, em um tom crítico às ações dos procuradores e especialmente do então juiz Sergio Moro, responsável pelo vazamento ilegal das conversas à mídia. Com base nesse argumento, o ministro disse não se arrepender da decisão.
A entrevista de Gilmar vem na esteira da divulgação, neste fim de semana, do último capítulo da Vaza Jato, que revelou a manipulação da força-tarefa de Curitiba para impedir que Lula se tornasse ministro do governo Dilma. As revelações colocam em xeque a afirmação feita por procuradores da Lava Jato de que a nomeação de Lula visava obstruir as investigações contra ele.
A reportagem do The Intercept, divulgada em parceria com a Folha de S. Paulo, aponta que os procuradores da Lava Jato vazaram propositadamente apenas um dos diálogos, o que foi travado entre Lula e Dilma, enquanto outros que demonstravam que Lula estava relutante em aceitar o cargo foram ignorados. Ao todo, a equipe da operação tinha 22 diálogos de Lula no total.
Ainda segundo a reportagem os diálogos foram interceptados após a PF e as operadoras de telefonia já estarem de posse de decisões que determinavam as suspensões dos grampos. Ainda assim, o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, determinou o levantamento do sigilo do áudio entre Dilma e Lula.
“Seria preciso ter todas as informações disponíveis e analisá-las em seu devido contexto”, disse Gilmar ainda obre o assunto. “O importante agora é organizar uma fuga para frente”, ressaltou. Para ele, “todas essas revelações estão expondo falhas no nosso sistema judicial, que permitiram abusos e mostram a necessidade de maior controle. Todos temos de fazer uma revisão”.