Há 20 anos, Kurt Cobain tirava sua própria vida

Se o dia 3 de fevereiro ficou conhecido como “o dia em que a música morreu” após o acidente que vitimou Buddy Holly, Ritchie Valens e JP Richardson em 1959, o dia 5 de abril de 1994 pode ser considerado o dia em que boa parte do rock morreu. Foi nesse dia que uma bala saiu da espingarda Remington e atravessou o crânio do músico responsável pela última grande revolução da música: Kurt Cobain.

O guitarrista e vocalista do Nirvana, com 27 anos na época, encerrou ali sua trajetória como músico e, talvez sem saber, deu pontapé em um dos legados mais valiosos do rock mundial.
Segundo o laudo oficial das autoridades, se não fosse o tiro, teria morrido de overdose de heroína. Extra-oficialmente as suspeitas de assassinato são frequentes, principalmente entre os fãs.

As circunstâncias da morte de Cobain são tão incertas quanto sua vida. As teorias que surgem ciclicamente só contribuem para que o mito em torno do músico cresça.

Anos-luz distante do ícone do rock que liderou uma geração, Cobain nasceu na cidade de Aberdeen, vizinha a Seattle.
A personalidade instável era fruto, segundo os que estavam à sua volta de dois fatores: o divórcio dos pais aos nove anos e dores de estômago crônicas que sofreu durante toda sua vida. Dores tão intensas que teriam agravado seu vício em heroína como escape.

Outra válvula encontrada por Kurt para deixar sua energia fluir foi a música. Ao lado do amigo Kirst Novoselic, Cobain esboçou sua primeira empreitada na música.

Logo estava formado o Nirvana ao lado de Novoselic, Chad Channing (bateria) e Jason Everman (guitarra), encontrou-se. O rock pesado e simplista, de sotaque punk, falava sobre sua vida pessoal.

Depois da estreia com o álbum Bleach (1989), a banda se estabilizou em um trio. As impressões – e principalmente aflições – de Kurt Cobain sobre sua perspectiva do mundo em que vivia se tornaram recorrentes nas letras das canções e na fúria de suas execuções.

Essa combinação explosiva de melodia e barulho se tornou marca registrada do Nirvana e praticamente de tudo o que se produzia em Seattle.

Com Nevermind (1991), o Nirvana saiu de vez da escuridão do underground e carregou o rock mais uma vez para os holofotes do mainstream. O álbum de maior sucesso do trio enfatiza a instabilidade emocional de Cobain, mas reafirma a potência musical do trio, agora com Dave Grohl na bateria.

O peso da fama e a pressão ao lidar com a grande mídia era um fardo que Kurt não havia se preparado para carregar. Diversas são as teorias sobre seus últimos anos, mas a principal linha de pensamento leva tudo a convergir no comportamento auto-destrutivo do músico, cada vez mais imerso nas drogas e depressivo.

Sua vida pessoal corria paralelamente ao grupo em uma montanha-russa emocional. O namoro e casamento com Courtney Love oscilava entre declarações apaixonadas e ataques de fúria. A história de Cobain ganhava mais um capítulo de instabilidade e incerteza. Desta soma nasceu Frances Bean Cobain, única filha do casal, em 18 de agosto de 1992.

Enquanto vivia relacionamentos cada vez mais difíceis, profissionalmente Kurt também enfrentaria outro desafio: tentar superar Nevermind. O disco, que hoje atualmente já soma 28 milhões de unidades vendidas, criou um respiro para a indústria fonográfica, que prontamente queria que seu sucessor seguisse o mesmo caminho nas paradas. Em 13 de setembro de 1993 era lançado In Utero, muito aquém de seu antecessor, mas criado já sob a aura da banda mais forte do momento.

Ainda naquele ano o Nirvana se reuniria para gravar o que seria outro êxito, o Acústico MTV, registrado em Nova York no dia 18 de novembro de 1993 e lançado um ano depois, já após o suicídio de Kurt.

O começo do fim

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Kurt Cobain foi diagnosticado com uma severa bronquite acompanhada de uma laringite enquanto estava em Munique, na Alemanha. Acompanhado de sua mulher, ele viajou para Roma para se tratar e descansar. No dia 3 de março de 1994, Love acordou e descobriu Kurt desacordado. O resultado: uma overdose de champanhe com Rohypnol, medicamento que que induz o sono de forma rápida e intensa.

O músico foi levado ao hospital, onde ficou cinco dias desacordado. Ao ser liberado, voltou para Seattle. Courtney alega que este episódio foi a primeira tentativa de suicídio do marido.

No dia 18 do mesmo mês a polícia de Seattle recebeu uma ligação de Love dizendo que o marido havia se trancado no quarto com uma arma na tentativa de se matar. O episódio se resolveu no mesmo dia. As autoridades apreenderam diversas armas do músico.

Courtney Love e amigos próximos do cantor armaram uma intervenção no dia 25 de março. Inicialmente Kurt debochou da tentativa, mas no fim das contas concordou em ir para a Exodus Recovery Center, em Los Angeles, onde deu entrada no dia 30 do mesmo mês.

O período de desintoxicação começou bem, com visitas de amigos e familiares. Em um desses dias Kurt Cobain recebeu sua filha, Frances, com quem brincou bastante. Na noite seguinte, o músico escalou uma cerca da institução e fugiu da clínica. O líder do Nirvana pegou um táxi para o aeroporto de Los Angeles e na sequência um voo para Seattle.

Curiosamente, Cobain se sentou no avião ao lado de Duff McKagan, baixista do Guns N’ Roses. Embora o músico tivesse uma série de atritos com Axl Rose, ele “parecia feliz”, segundo o baixista.

Kurt cobain foi visto em diversos locais de Seattle nos dias 2 e 3 de abril. E foi neste dia que Courtney Love contratou o investigador Tom Grant para descobrir o paradeiro de seu marido.

O paradeiro do músico só foi descoberto no dia 8 de março. O eletricista Gary Smith, contratado para instalar um sistema de segurança na casa de Kurt em Lake Washington se deparou com o corpo do músico. Embora tenha visto uma pequena quantidade de sangue no ouvido do líder do Nirvana, Smith imaginou que ele estivesse dormindo até o momento em que viu a espingarda próxima de seu queixo.

Os dias seguintes foram marcados por homenagens e uma série de seguidores fazendo vígilia na casa do músico.

A cerimônia final de despedida de Kurt Cobain aconteceu apenas em 31 de maio de 1999. Na ocasião, sua filha, Frances, espalhou as cinzas do músico no lago McLane, em Olympia.

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