Já faz quase um mês que um grupo de manifestantes – cidadãos brasileiros – está acampado em frente da Assembleia Legislativa do Estado do Amazomas (Aleam).
Como milhões de brasileiros, sufocados por anos de desmando e de muita bandalheira institucionalizados, o pequeno grupo, comandado por Rodolfo Marinho, marchou vários quilômetro na manhã do dia 1º deste mês por várias ruas da cidade até chegar à Aleam.
Por volta das 11 horas, lá estava o grupo em frente ao poder legislativo estadual, com um pequeno carro de som, faixas e cartazes na mão a bom fazer barulho pelo fim das mordomias (auxilio paletó, auxílio gasolina, auxílio rancho, fim do voto secreto, 14º e 15º salários, etc.).
Eles gritaram, se esgoelaram, chamaram os deputados de gazeteiros, pediam pela presença do presidente da casa, deputado Josué Neto, trancaram os portões daquele poder, fortemente guarnecidos por policiais militares, mas até o anoitecer ninguém apareceu.
Diziam que todos ainda estavam em Parintins onde passaram o final de semana para a festa dos bois-bumbás.
A ideia inicial era entregar a Neto uma proposta reinvindicatória e deixar o local desde que fossem atendidos.
Resultado: dormiram no local em barracas improvisadas e só no dia seguinte apareceu o deputado Chico Preto que recebeu o documento, leu detidamente e prometeu que cada item seria analisado e levado à plenário para apreciação dos nobres deputados.
Foi só.
De lá para cá nada mais foi tratado. A polícia desobstruiu a Avenida Mário Ipiranga Monteiro e deixou para os manifestantes um pequeno espaço da calçada da Aleam onde até hoje estão.
Cansados e exaustos pela fadiga do calor, do desconforto de noites indormidas, mesmo assim os líderes do movimento insistem pelo diálgo. Mas não houve conversa.
Não houve conversa porque os manifestantes exerceram o livre exercício da democracia pacificamente, sem depredações, radicalismo e, sobretudo, com respeito ao patrimônio público.
Do outro lado, nem mesmo uma promessa – comum aos políticos – para massagear o orgulho ferido de cidadãos brasileiros que ganharam às ruas para protestar contra a vergonha e as mazelas enraízadas no tecido orgânico dos três poderes que há décadas enlameiam a nação brasileira.
A indiferença dos 24 representantes do Poder Legislativo Estadual, que ignoraram em verde e amarelo reividicações pertinentes de um grupo de cidadãos, deixandos-os que pernanecessem ao relento, enquanto dormem em confortáveis quartos refrigerados, pagos com o dinheiro do povo, revela o tamanho da sensibilidade desses cidadãos engravatados.
É claro que alguns, nesse caso, pagam o pato em defesa da manutenção do Spirit corp sem terem comprado, alugado, vendido ou comido do mesmo.
Virar as costas para o povo é arriscado, além de não combinar em nada com a democracia, muito menos com os ideais repúblicanos.
Deixar cidadãos ao relento, dia e noite, faça chuva ou sol, tratando-os como seres inferiores exala prepotência – odiosa, diga-se de passagem.
O povo merece respeito. Não importa se o grupo acampado na calçada da Aleam é pequeno ou que não tenha representatividade, como querem os nobre deputados. O grupo acampado na Aleam é representado por gente do povo.
Uma frase de Winne Mandela do livro “Parte da Minha Vida” para reflexão: “não há canhão, fuzil, metralhadora capaz de conter a fúria de um povo com pedra e paus na mão”.