Impostos e desvalorização: por que Ronaldo ainda não vendeu o Valladolid

Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Sincero, Ronaldo Fenômeno avisou na semana passada que, depois de vender sua parte na SAF do Cruzeiro, fará o mesmo com o Valladolid, no qual a relação com a torcida está há meses deteriorada. O ex-jogador comprou o clube espanhol em 2018 por 30 milhões de euros. É dono de 82% das ações da agremiação – adquiriu 51% inicialmente, anos depois mais 21% e, por fim, aumentou seu controle acionário para 82%.

“Eu vou tirar esse restinho de vida sabático”, justificou Ronaldo, depois de dizer que “o Valladolid será o próximo”. Sua declaração, em tom peremptório, foi dada na coletiva em que confirmou que passou o controle do Cruzeiro ao empresário Pedro Lourenço, dono da rede Supermercado BH.

Dono de um conglomerado com nove empresas e com fortuna estimada em R$ 1 bilhão, Ronaldo quer se retirar gradualmente dos holofotes e voltar a ter mais tempo livre para lazer e seus muitos compromissos comerciais. Ele continuará focado em seus negócios, mas não deseja mais sofrer a pressão constante que viveu no Cruzeiro e que ainda sofre no Valladolid.

Seu plano, segundo apurou o Estadão, é não mais administrar clubes de futebol. A pessoas próximas, ele afirmou que não mais irá cometer essa “loucura” de comprar outro time no futuro. O Fenômeno diz não ter se arrependido, mas não quer mais ser gestor de uma equipe. A ideia é dar prioridade às suas empresas, algumas delas ligadas ao futebol.

Soma-se a isso, também, a péssima relação que Ronaldo tem com a torcida, que já o chamou de mentiroso e questionou o gestor: “cadê o dinheiro?”, cobraram os torcedores, por meio de cantos e faixas. Eles se revoltaram ainda mais depois que o dirigente decidiu mudar o escudo do clube, em junho do ano passado. No fim do ano passado, quando o time iniciou com uma série de derrotas sua jornada na segunda divisão, os torcedores se revoltaram: “Cinco anos de mentiras. À beira do abismo”, exclamaram em uma faixa.

A relação com a torcida, após uma breve euforia inicial, tem sido tensa sobretudo por causa dos resultados. O Valladolid foi rebaixado na temporada 2020/21, subiu no ano seguinte, mas voltou a cair em 2022/23. A situação em campo pressionou as finanças do clube. Os torcedores perderam a paciência, e a cobrança por investimentos piorou ainda mais a imagem de Ronaldo entre torcedores.

“A verdade é que a distância entre o atual presidente e o torcedor é abismal. Não há harmonia. A mudança de escudo foi um exemplo claro de que os caminhos são completamente divergentes. É algo que se tornou evidente nos últimos meses, ataques injustificados e perseguições à margem”, escreveu o jornal Marca, em artigo recente.

Em breve, fora do Valladolid

Mas por que Ronaldo ainda não vendeu suas ações do Valladolid? São dois motivos: os altos impostos que se paga na Espanha e a desvalorização do clube depois de cair na temporada passada para a segunda divisão. Ele não considera ser oportuno negociar sua parte agora, já que o time joga a divisão de acesso e, por isso, viu seu valor de mercado cair. O ex-jogador, inclusive, fez um movimento errado, segundo os especialistas em gestão esportiva, ao anunciar publicamente que colocaria à venda o seu controle acionário.

A reportagem ouviu de pessoas próximas a Ronaldo que, caso o o Valladolid consiga o acesso de volta à elite do futebol espanhol, ele negociará suas ações até, no máximo, o reinício da temporada 2024/2025. Embalado na reta final desta temporada, o Valladolid emplacou a quinta vitória consecutiva no último sábado e é o vice-líder da competição, com 67 pontos. Tem mais quatro jogos a disputar e está muito perto de retornar a LaLiga.

Na LaLiga 2, três clubes sobem para a primeira divisão divisão. A terceria vaga é definida por meio de um playoff disputado entre terceiro, quarto, quinto e sexto colocados. No ano passado, o brasileiro afirmou não negociaria o controle acionário “até que tenha deixado o clube no lugar onde quero deixar”.

Operação fiscal em Dubai

Ronaldo não deve vender sua parte por menos de 100 milhões de euros. Como na Espanha os impostos são altos, ele chegou a estudar a ideia de abrir um domicílio fiscal em Dubai para viabilizar a venda.

Conhecida pelos grandes benefícios fiscais, a capital dos Emirados Árabes Unidos é uma escolha atraente para empresários que buscam obter 100% da propriedade de sua empresa e não desejam pagar impostos corporativos. Mas, como isso leva tempo – ao menos dois anos – e Ronaldo tem pressa, ele desistiu do plano e fará a operação dentro da Espanha. Com isso, será taxado pela Hacienda Espanhola (equivalente à Receita Federal do Brasil).

Com informações de Estadão.

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