Jair Bolsonaro deu indícios de que está com sua paciência no limite. O militar terminou uma entrevista coletiva, nesta sexta-feira (16), no Rio de Janeiro, depois de ter sido questionado a respeito da saída de profissionais cubanos do programa Mais Médicos.
“Como o assunto saiu da área militar, quero agradecer a todos vocês aqui”, disparou ele, não escondendo a irritação, colocando ponto final à coletiva, que teve a duração de menos do que quatro minutos.
Bolsonaro se reuniu com o almirante Eduardo Bacellar, comandante da Marinha, e falava sobre a escolha dos comandantes que trabalharão nas áreas da Segurança e Defesa de seu governo, quando foi questionado sobre o anúncio do governo de Cuba de retirada dos 8.500 médicos cubanos do programa de saúde.
O destempero e a truculência de Bolsonaro são bem conhecidos dos jornalistas. Em 2014, por exemplo, a então repórter Manuela Borges, da Rede TV, afirmou que iria processá-lo. A decisão foi tomada após ela ser chamada de “idiota” e “analfabeta”, durante uma entrevista coletiva, que marcou a lembrança a solenidade des 50 anos do Golpe Militar de 64. Além do processo, ela prestou queixa na Corregedoria da Câmara.
Bolsonaro se irritou porque a repórter questionou se ele estava afirmando que não houve golpe militar. “Quem cassou João Goulart? Foi o Congresso no dia 2 de abril. Não faça uma pergunta desse padrão. Você é uma idiota. Você aprendeu onde isso aí? Estou falando que está no ‘Diário do Congresso’. Você é uma analfabeta. Não atrapalhe seus colegas, você está censurada”, acrescentou o militar. Manuela acabou desistindo do processo, porque, segundo ela, “não teve respaldo”.
JN
Por incrível que pareça, até jornalistas da Rede Globo não escaparam das grosserias de Bolsonaro. Durante entrevista ao Jornal Nacional, para Renata Vasconcellos e William Bonner, durante a campanha do primeiro turno este ano, o militar discutir com a âncora.
Questionado sobre o que faria para combater a desigualdade salarial entre homens e mulheres, ele foi contestado por. Bolsonaro, irritado, afirmou que ela ganhava menos que seu editor e colega de bancada. A jornalista respondeu: “Meu salário não diz respeito a ninguém e eu posso garantir ao senhor como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor que o de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu”.
Folha de S.Paulo
Em outro momento marcante, que mostra como Bolsonaro tem dificuldade de conviver com a críticas da imprensa ocorreu durante discurso, transmitido na Avenida Paulista antes das eleições deste ano. O militar atacou toda a imprensa do país e ameaçou diretamente a Folha de S.Paulo.
“Conclamamos a todos vocês que continuem mobilizados e participem ativamente por ocasião das eleições do próximo domingo, de forma democrática. Sem mentiras, sem fake news, sem Folha de S.Paulo. Nós ganharemos esta guerra. Queremos a imprensa livre, mas com responsabilidade. A Folha de S.Paulo é o maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa livre, parabéns; imprensa vendida, meus pêsames”.
Dias antes, o jornal havia revelado esquema de caixa dois utilizado para propagar mentiras por meio do WhatsApp.
Assessor
Como Bolsonaro costuma agir dessa forma, os integrantes de sua equipe se sentem no direito de fazer igual. Carlos Eduardo Guimarães, assessor do militar, enviou uma mensagem ofensiva a jornalistas, logo após a vitória na eleição presidencial. Guimarães chamou os profissionais de “engodo” e “lixo”.
Ele escreveu: “UÉ…. não tava quase empatado? Vocês são o maior engodo do jornalismo do Brasil!!!! LIXO”. As ofensas foram mandadas para uma lista de transmissão pela qual ele encaminhava também a agenda do então candidato e respostas a demandas coletivas de jornalistas.