O impacto de ver o primeiro deputado assumidamente gay que militava pelos direitos dos LGBT deixar o mandato e o país é tremendo e é um retrato fidedigno do momento que vivemos: Jean Wyllys de Matos Santos, 44 anos, negro, homossexual, que veio de uma vida dura no interior da Bahia para o parlamento do maior país da América Latina torna-se o primeiro exilado político da era Jair Bolsonaro. J
A decisão tem peso e é mais uma das tragédias que se abate sobre o campo progressista, cuja morte da vereadora Marielle Franco, que compartilhava com Jean o partido, a orientação sexual e uma vida de ameaças por conta de sua atuação política, é certamente o expoente. Jean deixa o cargo para o qual foi reeleito pela segunda vez e o país que defendeu como poucos no parlamento para não deixar a vida.
Vida esta que Jean vivia, por conta do protagonismo que assumiu em sua luta pelos direitos das minorias e por trazer para o Congresso a voz de quem sempre nunca teve voz, estava tornando-se insustentável no Brasil. Amigos próximos relatam um cotidiano com pouca ou nenhuma vida social, acompanhado de ameaças cada vez mais frequentes e com riqueza de detalhes cada vez mais assustadora. Não era uma vida, mas uma sobrevida, ameaçada a terminar a qualquer momento pela intolerância fascista que coloca gente como Marielle e Jean no fio da navalha.
O primeiro exilado político do mandatário fascista que está sentado na cadeira de presidente da República havia de ser negro, viado, de origem pobre e que defende os direitos humanos e das minorias. Jean deixa o mandato, o Brasil, mas deixa mais do que isso. Ele deixa um legado de luta sem medo contra quem lhe quer morto e em defesa dos que tem o direito fundamental a vida negado sistematicamente. No país que mais assassina lésbicas,gays, bissexuais, travestis e transexuais do mundo, Jean ousou desafiar as estatísticas. Entra para a história por suas insistências e desistências heroicas.