O jornalista, historiador e professor da PUC-RS Juremir Machado da Silva pediu demissão ao vivo ao final de uma entrevista com o candidato a presidência Jair Bolsonaro (PSL) na Rádio Guaíba de Porto Alegre. Por exigência de Bolsonaro a entrevista foi conduzida apenas pelo apresentador do programa, Rogério Mendelski e os demais integrante do ‘Bom Dia’ não tiveram o direito de dirigir perguntas ao candidato.
“Nós poderíamos dizer que o candidato nos censurou?”, questiona o jornalista Juremir Machado da Silva ao final de uma entrevista, na manhã desta terça-feira (23), no programa Bom Dia com Rogério Mendelski, na Rádio Guaíba. A entrevista foi conduzida pelo apresentador com o candidato à Presidência Jair Bolosnaro (PSL).
Juremir e outros dois jornalistas, Jurandir Soares e Voltaire Porto, acompanharam os questionamentos e as declarações do presidenciável – mas foram impedidos de se manifestar. Segundo Mendelski, ao longo da conversa por telefone, Bolsonaro não soube da presença de outros jornalistas no estúdio. No entanto, ele admitiu a existência de um pedido prévio. “O silêncio de vocês foi uma condição do candidato”, afirmou Mendelski. O apresentador também disse que o programa “quase conseguiu entrevistar [o candidato Fernando] Haddad (PT)”, mas que a conversa não se concretizou por conflitos de agenda. “Ele disse que falaria somente comigo. Não tem censura”, respondeu Mendelski, após o comentário de Juremir.
Logo no início da entrevista, Bolsonaro, que se recusou a participar de debates no segundo turno e vem atacando parte da imprensa, diz que o PT quer “promover o controle social da mídia”. “É o controle social que existe em Cuba, por exemplo. Lá existe o controle social, na Coreia do Norte e outros países comunistas que tem por aí. Esse é o PT e eu sou oposição a esse tipo de pensamento”, afirma o candidato, sem explicar que controle seria esse, que o PT não implantou desde que chegou ao governo, em 2003.
Questionado por Mendelski sobre um “noticiário mais agressivo” por parte da Rede Globo e da Folha de S.Paulo, Bolsonaro acusa esta última de ser a “grande origem de fake news no Brasil”. A Folha publicou na última semana uma reportagem que aponta que empresários apoiadores de Bolsonaro estariam contratando pacotes de envios em massa de mensagens de WhatsApp para fazer campanha contra o PT e a favor de Jair Bolsonaro.
A Rádio Guaíba pertence à Rede Record, do bispo Edir Macedo, apoiador de Bolsonaro. No dia 13 de outubro, o site de notícias Intercept Brasil publicou o relato de um funcionário do portal R7, também de propriedade de Edir Macedo, que denuncia censura e direcionamento na cobertura das eleições para publicar apenas notícias que favoreçam o candidato do PSL. Desde então, o Intercept afirma que o império midiático do religioso vem tentando intimidar jornalistas do site.
“Eu achei humilhante e, por isso, estou saindo do programa. Foi um prazer trabalhar aqui por 10 anos”, afirmou Juremir, que, logo após, deixou o estúdio. Os jornalistas remanescentes reiteraram que o pedido de Bolsonaro não seria “um problema”. Ao ser questionado por Mendelski sobre sua opinião, Voltaire Porto respondeu que “precisa trabalhar”. Já Jurandir tentou minimizar a situação: “Ele concedeu a entrevista em consideração a ti, e acho que tem que respeitar”.