Ele vem sendo chamado de “extremista” e de “fanfarrão” por muitos chineses. Mas Joshua Wong, um estudante de 17 anos, parece não se importar. Ele está mais interessado em tentar liderar uma revolução social em seu país.
Joshua vive em Hong Kong, uma ex-colônia britânica que foi devolvida à China em 1997 e hoje é uma região autônoma com alguns direitos, como liberdade de expressão e eleições locais.
Mas críticos dizem que o governo chinês está tentando minar algumas das autonomias obtidas quando o poder foi transferido – e muitos, como Joshua, vêm protestando contra isso.
“O povo não devia ter medo do governo”, diz o jovem, citando o filme V de Vingança (2005). “O governo é que deve ter medo do povo.”
Seu ativismo político, no entanto, teve início bem antes da atual onda de protestos.
Com apenas 15 anos, ele e alguns amigos criaram um grupo, chamado Scholarism, para, segundo ele, dar aos estudantes uma voz política.
Em uma entrevista recente a um jornal local, ele explicou melhor sobre essa iniciativa. “Apesar de os estudantes serem menores de idade, ainda não terem uma profissão nem um status social, eles têm, sim, um papel para influenciar nas políticas do governo.”
E suas ações já tiveram um impacto na política de Hong Kong.
Em 2012, seu grupo liderou um protesto de 120 mil estudantes que ocupou a sede do governo, ajudando a derrubar um programa nacional de educação que era visto como pró-China.
‘Semi-democracia’
Agora, dois anos depois, ele está liderando os protestos novamente, em um movimento contra a decisão de que a China escolha o candidato à eleição em Hong Kong.
Em 2007, o governo chinês prometeu aos residentes de Hong Kong que eles teriam direito ao “sufrágio universal”, no qual todos poderiam votar.
Essa era a teoria. No entanto, na prática, os eleitores de cada região podem apenas selecionar seu candidato de uma lista pré-selecionada por Pequim.
A China alega que liberar o voto direto e aberto causaria uma “sociedade caótica”.
Joshua diz que isso faz com que Hong Kong seja apenas “semi-democrática” e por isso acredita que outros estudantes precisam “se importar mais” com a política.
Para ele, estudante são as pessoas ideais para divulgar essa mensagem porque eles são, por natureza, “idealistas”.
Sua mensagem é clara: ele quer uma sociedade livre em que todos tenham a possibilidade de nomear e votar em candidatos para o executivo de Hong Kong. Ele quer democracia.
Joshua acredita que uma manifestação específica é o ideal, mas que às vezes é preciso lançar mão da “desobediência civil”.
Assim, ele e seus colegas tomaram as ruas e estão bloqueando a região central de Hong Kong.
Os protestos foram inicialmente planejados pelo movimento Ocuupy Central para começarem nesta semana, mas seus membros se juntaram às manifestações antes.
“Em vez de encorajar os estudantes a se unirem (aos protestos), fomos encorajados pelos estudantes a nos unirmos a eles”, disse Benny Tai, um dos líderes do Occupy.
“Estamos impressionados e comovidos com o trabalho desses estudantes.”
Ameaça
Joshua foi oficialmente classificado como uma ameça à segurança pelo Partido Comunista. Ele foi uma das 78 pessoas presas durante um protesto na sede do governo, e ficou detido por mais de 40 horas.
Apesar de ter liberado o estudante, a polícia deixou claro que tem o direto de voltar a prendê-lo.
Temendo que as redes de celular fossem derrubadas, ele – em outro ato de desobediência – orientou seus seguidores a baixar o aplicativo Firechat.
O app permite que os usuários se comuniquem por mensagens mesmo sem acesso à internet e já foi baixado mais de 100 mil vezes desde domingo.
Ao deixar a prisão, cansado e com alguns ferimentos, o estudante prometeu se unir novamente aos protestos:
“Você precisa encarar cada batalha como se fosse a batalha final. Só assim você terá determinação para lutar.”