Sábado, 19 horas, aproximadamente. Um rapaz de identidade até então desconhecida – pobre, certamente – caminhava nas proximidades do Terminal 4 (T4), na Grande Circular, zona Leste de Manaus. Provavelmente, a caminho de casa – se é que tinha – depois de um dia suado, duro, difícil, cansativo, não só pelo calor abrasador, ferrenho, que castiga Manaus, mas sobretudo pelo rigor da batalha imposta pela desigualdade social vivida desde os tempos idos pelos filhos deste Brasil varonil.
Infelizmente, depois de se livrar daquele longo e sufocante dia e antes que pudesse chegar em casa, o corpo do jovem desconhecido estava estendido ao chão, ensanguentado, com os miolos fora da caixa craneana.
Era mais uma vítima do trânsito, atropelada e morta criminosamente por um desvairado – quem sabe por um daqueles riquinhos sem responsabilidade e com a cabeça cheia de cocaína – com seu carro envenenado e em alta velocidade.
O coitado sequer teve tempo de ser socorrido e tirado do asfalto de uma das mais movimentadas avenidas da cidade. Um ônibus que passava pelo local, pertencente à empresa Vitória Régia, não pôde ser desviado a tempo: passou por cima da cabeça do rapaz. O resto já foi contado.
Ah! Ele teve o direito a um espaço no Instituto Médico Legal e de ser guardado em uma de suas geladeiras até que alguém o identificasse e , finalmente, o fizesse chegar em casa para o seu funeral.