O laudo pericial da morte da soldado da Polícia Militar, Deusiane da Silva Pinheiro, ocorrida no dia 1º de abril deste ano, no interior de uma embarcação fluvial do Batalhão Ambiental da PM onde ela trabalhava, entregue nesta quinta-feira, pelo Departamento de Polícia-Técnico Científica (DPTC), depois de seis meses, à Diretoria de Justiça e Cidadania da Polícia Militar do Amazonas (DJC/PMAM), onde volta a deixar claro que a vítima suicidou-se, não agradou nada a família que acredita que a policial feminina não cometeu suicídio, mas foi morta pelo cabo PM, Elson dos Santos Brito, com quem a vítima teve um relacionamento.
Apesar laudo apontar para suicídio, a advogada Martha Gonzalez, que defende a família da vítima, disse que um fato chama atenção na parte da balística, onde o perito diz que foi constada que a arma cautelada ao cabo Elson Santos apontava dois números de séries divergentes, o SW 71893, gravado na porção lateral esquerda e o número SAT 51035, gravado na porção lateral direita do ferrolho, essa última eles afirmam ser a arma que estaria cautelada a policial Deusiane.
“Essa arma 51035 que eles afirmam ser da Deusiene, mas de acordo com o livro e a arma apreendida pelo Batalhão Ambiental a arma cautelada para a policial é a de número 1005. Essa aí estava com o cabo Elson, como a própria perícia afirma, mas dizendo que o ferrolho era da vítima”, questiona a advogada, afirmando que laudo prova o que a família vem denunciando há tempos, que as armas foram trocados para fundamentar o suicídio da polícia que na verdade foi assassinada.
“No dia da reconstituição para fazer esse laudo, eu como advogada da família da vítima deveria ter tido acesso a tudo, mas os peritos e polícia não deixaram nem eu nem os familiares entrarem no barco onde funciona a base do Batalhão Ambiental onde ela (Deusiene) morreu”, disse Martha, afirmando que por não ter sido permitido seu acompanhamento a perícia, o laudo já é nulo. “Fiz um Boletim de Ocorrência para registrar o fato”, acrescentou.
Martha disse como o Ministério Público, que é o fiscal da Lei, tem ficado omisso a morte da policial, os familiares com a ajuda do senador Lindberg Farias (PT/RJ), relator da CPI do Assassinato de Jovens, a senadora Vanessa Grazziotin (PcdoB-Am), levaram o caso ao Procurador da República Rodrigo Janot.
A mãe de Deusiene, Antônia Assunção da Silva, esteve na Audiência Pública da CPI do Assassinato de Jovens do Senado Federal, realizada na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), em setembro deste ano, conversou com o senador e pediu a federalização do caso da policial militar.
Laudo
O laudo foi entregue pelo diretor do DPTC, Jefferson Mendes, ao diretor da DJC/PMAM, coronel Hildeberto de Barros Santos, para ser anexado ao inquérito militar aberto pela Polícia Militar do Amazonas, que instaurou investigação sobre o caso.
Conforme a conclusão do laudo: “Analisando todas as versões e depoimentos das testemunhas, aliadas aos resultados obtidos dos exames complementares, laudo cadavérico e laudo de local de crime observa-se a falta de elementos de convicção técnico-científica, que permitissem validar a hipótese homicídio”.
Devido a complexidade do caso, de acordo com o diretor do DPTC, Jefferson Mendes, foram feitas a solicitação de seis laudos periciais: O laudo do local de crime, necroscópico, balística, residuográfico, de informática e reprodução simulada (reconstituição).
“Nesta caso, a perícia contou ainda com um exame internacional que é o Luminol, usado para detectar vestígios de sangue em alguns objetos mesmo que o local tenha sido limpo de alguma forma”, disse.
Entenda o caso
A família da PM Deusiane da Silva Pinheiro, acusa a Polícia Militar de acobertar o autor do crime ocorrido no dia 1º de abril deste ano. A vítima foi encontrada morta, com um tiro na cabeça, nas dependências da Companhia Fluvial do Batalhão Ambiental, localizado no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus.
A versão inicial divulgada pela Polícia Militar à imprensa apontava para suicídio, mas depois as investigações constataram que se tratou de um assassinato. Para a advogada e a família, se trata de crime qualificado como feminicídio, cujo autor seria o cabo PM Elson dos Santos Brito. O suspeito tinha um histórico de violência contra a vítima e não aceitava o rompimento do relacionamento. Tudo teria sido premeditado.
Novos fatos indicaram uma reviravolta no caso. O laudo do Instituto de Criminalística apontava que Deusiane foi torturada — a perícia indicou dedos quebrados e hematomas — antes de morrer, mas autoridades policiais não estão dando prosseguimento ao processo para “proteger” o acusado por corporativismo.
Outro fato novo é que Deusiane não estava armada, conforme consta no Livro de Carga de Armas dos PMs que estavam de serviço no dia do crime.
Na época, o comando da PM abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias do caso. Passados os dois meses do prazo estipulado, nenhuma providência foi tomada no sentido de prender o acusado ou afastá-lo do serviço. Ele continua trabalhando normalmente e testemunhas estão sendo ameaçadas.
Fonte/fatoamazônico