Memórias de Manaus ameaçadas de desaparecer nas ruínas do Complexo “Booth Line” (A face oculta de Manaus – Parte III)

Um dos mais importantes símbolos da história da Manaus Antiga, conhecido como “Complexo Booth Line”, praticamente desapareceu do mapa. Formado por uma arquitetura composta por 17 edificações, o Imóvel foi comprado no ano de 2001 pelo empresário Carlos Alberto De’ Carli que deveria revitalizar a área como parte do Projeto de Revitalização do Porto. 

Infelizmente, nada foi revitalizado. Em vez disto, o complexo Booth Line foi transformado em rentável estacionamento de veículos – um monstrengo que, à noite, vira covil de marginais e consumidores de droga.

Resumindo: boa parte da memória de Manaus foi implodida. Ficaram apenas as paredes de belos casarões. E ninguém fala nada, embora demolir patrimônio público seja crime previsto na Lei Orgânica do Município (Lomam).

Pra não dizer que todos ficaram comodamente de braços cruzados, de bicos fechados, no dia 9 de agosto de 2002 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional embargou extrajudicialmente a demolição do complexo que era executada pela empresa “Loca Serve”.

A antiga Empresa Municipal de Urbanização (Urbam), também, moveu um termo de embargo. E foi só nada mais aconteceu.

As empresas portuárias, entretanto, presididas, a época, por Eric Stone de Holanda, não deram a menor importância para o embargo. Foi aí que, então, entrou em ação o Ministério Público Estadual (MPE). Através de ação civil pública suspendeu a demolição.

Só que tarde demais. Grande parte do imóvel estava perdida. O que restou foram as fachadas.

Tombadas pela Lei Orgânica, as ruínas passaram a ser de responsabilidade da prefeitura que até então não tomou nenhuma providência para fazer ressuscitar o antigo Complexo Booth Line.

De acordo com a Lomam, qualquer interferência em imóvel tombado tem que ser comunicado ao Município. Mas, no que diz respeito à destruição do Complexo Booth Line, tudo indica que isso ficou longe de acontecer.

Construído com base na arquitetura portuguesa, o imóvel remonta ao Século XIX. No interior dele havia, inclusive, praça.

Nos últimos 15 anos nada agrediu com tanta contundência a história de Manaus quanto a demolição de tão precioso patrimônio.

Mesmo sem autorização da justiça, o espaço interior do complexo foi transformado num estacionamento irregular com capacidade para 100 veículos.

As empresas Amazônia Operações Portuária, Empresa de Revitalização do Porto e Estação Hidroviária do Amazonas, que ganharam o direito de explorar por 25 anos as atividades do Porto de Manaus, até hoje nada fizeram para repor as estruturas internas do Booth Line.

Edifícios esquecidos

O Complexo Booth Line passou tantos anos esquecido que, quem passa em frente à sua fachada, ao lado do Porto, não consegue enxergar a beleza que eram as estruturas arquitetônicas do imóvel, desgastado com o tempo.

Pouco antes de o empresário De’ Carli adquirir o imóvel, ainda funcionou alguns bares e comércio de estivas. As edificações foram durante muito tempo unidades habitacionais e comerciais.

De acordo com a lei, mesmo que o patrimônio seja privado, ele é tombado pelo Instituto se tiver as características históricas.

A edificação demolida não foi tombada pelo Instituto, mas como a Alfândega Portuária é um patrimônio nacional tombado todos os imóveis que ficam em volta dela não podem ter suas técnicas construtivas modificadas.

A legislação municipal é clara ao sentenciar que só se pode mexer na edificação se for no espaço interior, salvo na parte externa se for para melhorar o imóvel.

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