Morre Nelson Mandela, líder antiapartheid

O ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, conhecido mundialmente por sua luta contra o apartheid, faleceu nesta quinta-feira em Johanesburgo aos 95 anos.

‘A nação perdeu seu maior filho’, disse o presidente Jacob Zuma, ao anunciar a morte do líder sul-africano.

O primeiro presidente negro da África do Sul, que lutou contra o regime de segregação racial vigente no país até 1994, começou em junho deste ano a ter complicações decorrentes de uma infecção pulmonar.

Mandela passou 27 anos na prisão por se opor ao regime do apartheid. Em 1994, quatro anos após ser libertado e um ano após receber o prêmio Nobel da Paz, foi eleito presidente da África do Sul, promovendo um governo conciliador que não excluísse a minoria branca.

Em 1999, Nelson Mandela encerrava seu mandato de presidente da África do Sul, colocando fim a uma das mais fantásticas trajetórias políticas de todo o mundo.

Rolihlahla Dalibhunga, seu nome de batismo, nasceu em 18 de julho de 1918, na pequena vila de Mvezo, na região de Transkei, na África do Sul. Uma professora lhe deu o nome em inglês pelo qual ficou internacionalmente conhecido.

Ele era membro da tribo Tembu, parte da nação Xhosa. Pertencia ao clã Madiba, como era chamado por muitos sul-africanos.

Mandela formou-se em direito pela Universidade da África do Sul em 1942 e estudou também nas universidades de Fort Hare e Witwatersrand.

Em 1943, aproximou-se de militantes do partido CNA (Congresso Nacional Africano), que viria a ser uma importante força política de combate ao regime segregacionista do apartheid. Pelas mãos de Gaur Radebe, Mandela passou a frequentar reuniões do partido e participou de um protesto contra o aumento de tarifas de ônibus.

Relembre sua trajetória

Mandela era integrante do Congresso Nacional Africano, e posteriormente da Liga Jovem, e encorajou a confrontação das leis impostas pelo apartheid contra os negros na África do Sul, na chamada Campanha do Desafio.

Em 1956, a polícia prendeu 156 pessoas em toda a África do Sul e quase todos os integrantes do Congresso Nacional da África, incluindo Nelson Mandela, alegando traição ao governo. O julgamento começou em 1958 e, após três anos, o juiz decidiu que não existiam provas de que os integrantes tinham usado violência contra o governo. Todas as acusações foram retiradas.

Em junho de 1964, Mandela foi preso acusado de sabotagem contra o governo; na época, ele alegou que estava apenas lutando contra ‘a tirania, exploração e opressão dos brancos sobre os negros’. Uma multidão lotou o prédio da Corte protestando e exigindo que Mandela e outros presos fossem soltos. Mandela ficou encarcerado por 27 anos.

Mandela passou 18 anos preso na Ilha Robben e foi forçado a realizar trabalhos pesados sob duras condições — ele era liberado apenas para escrever uma carta e receber uma visita a cada seis meses. Em 1982, ele foi transferido para a prisão de Pollsmoor e, finalmente, para a prisão de Victor Verster, em 1988. Hoje a cadeia de Robben Island foi transformada em uma atração turística e os visitantes podem ver a cela em que Mandela passou a maior parte de seu confinamento. A fotografia é um desenho feito por Mandela ilustrando a Table Mountain, cenário que ele via pela janela do lugar.

Durante os anos 80, o movimento pela libertação de Nelson Mandela ganhou força. Músicas sobre a situação foram escritas por vários cantores, marchas foram organizadas e eventos de caridade em todo o mundo passaram a mostrar imagens da opressão realizada pela África do Sul. O arcebispo Desmond Tutu, fotografado durante um protesto realizado na Universidade da Califórnia, foi um dos ativistas que participaram da campanha pela libertação de Mandela,

Após anos de pressão internacional para o fim do apartheid na África do Sul, o presidente da época, FW de Klerk, liberou os prisioneiros da Liga Jovem e de outros movimentos para serem soltos no dia 2 de fevereiro de 1990. Nove dias depois, Nelson Mandela saiu da prisão. Caminhando lentamente ao lado de sua esposa na época, Winnie, eles ergueram os punhos como gesto de vitória.

Após ter inicialmente recusado o cargo, Mandela foi eleito o presidente da Liga Jovem em julho de 1991. O momento central ocorreu quando Mandela ergueu a voz diante das negociações turbulentas com o Partido Nacional para que fosse formada uma nova democracia multirracial na África do Sul. Zulus e adeptos da Liga Jovem entraram em choque por todo o país e havia receio de que a África do Sul começasse uma guerra civil. No entanto, Mandela ajudou a solucionar os conflitos e ganhou grande apoio internacional.

Em 1993, o Comitê Norueguês do Prêmio Nobel decidiu prestigiar Mandela e o presidente FW de Klerk com o Prêmio Nobel da Paz pelo trabalho para acabar com o apartheid e pela criação de uma nova democracia na África do Sul. Aquela foi a terceira vez em que o prêmio foi dado a alguém que havia lutado contra o apartheid. Ao aceitar o prêmio, Mandela disse: ‘Estamos aqui hoje para representar nada menos do que milhões de pessoas que lutaram arduamente contra um sistema social cuja essência era a guerra, a violência, o racismo, a opressão, a repressão e o empobrecimento de toda uma nação’.

Perto de 20 milhões de sul-africanos participaram da votação, gerando cenários fora do comum, nos quais as pessoas ficavam em fila por horas em uma atmosfera de comemoração à democracia. A demanda foi tanta que o período de votação teve que ser estendido por dois dias. A Liga Jovem de Mandela ganhou as eleições com larga margem de vantagem.

 

 

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