MPF abre procedimento para investigar atos antidemocráticos em Manaus

O Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas abriu procedimento para investigar os atos antidemocráticos que acontecem em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), em Manaus. Segundo o órgão, a ação vai apurar transtornos causados à população daquela área, a partir de manifestações convocadas para contestar o processo eleitoral que teve o vencedor declarado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

As manifestações acontecem há 10 dias e são lideradas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que são contra a vitória no segundo turno de Luiz Inácio Lula da Silva (PL).

Em um despacho emitido na terça-feira (8), o procurador da república Filipe Lucena, coordenador do núcleo criminal do órgão no Amazonas, mandou apurar o bloqueio de parte da pista da Avenida Coronel Teixeira, onde os manifestantes se concentram.

Segundo o procurador, o ato pode ter conexão com uma denúncia recebida anteriormente pelo órgão, na qual os manifestantes enviavam convites para a manifestação, via aplicativo de mensagens, para contestar o resultado do processo eleitoral.

Ao g1, o MPF disse que continuará acompanhando o andamento dos acontecimentos e seus desdobramentos. A nota, no entanto, não fala das investigações acerca dos patrocinadores dos atos, que ocorrem em todo o país. De acordo com o órgão, o caso está sob sigilo.

O Ministério Público Estadual (MPE) também se manifestou sobre os atos. Segundo o órgão, o Procurador-Geral de Justiça Alberto Rodrigues do Nascimento Júnior estabeleceu, imediatamente, que fosse oficiado ao MPF para conhecimento e adoção de providências.

O órgão ministerial também determinou o encaminhamento das informações ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Especializadas na Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Histórico e da Ordem Urbanística.

Organizações denunciam os atos

A ação do MPF veio no mesmo dia em que representantes de movimentos sociais e organizações da sociedade civil acionaram o órgão pedindo medidas contra os atos antidemocráticos.

Em um dos requerimentos, assinado pela União de Negros e Negras pela Igualdade (Unenegro Manaus), Associação da Advocacia Popular Esperança Garcial, Centro Popular do Audiovisual e Coletivo Difusão, os grupos falam que os manifestantes devem ser enquadrados nas penas de crimes contra o Estado Democrático de Direito.

“Nota-se através de imagens e mensagens extraídas dos jornais e dos perfis de frequentadores das manifestações que o teor dessa manifestação local ofende diretamente a ordem democrática do nosso país, pois, contestam o resultado das urnas e toda a lisura do processo eleitoral, solicitam intervenção militar, limitam a liberdade do ir e vir com a obstrução dessa via em diversos momentos desses últimos dias, e perturbam a paz e o sossego dos moradores daquela localidade”, denunciaram as organizações.

“[…] É igualmente necessário identificar se há funcionários públicos participando destes movimentos para a abertura dos devidos processos administrativos e aplicação de penalidades cabíveis”, finaliza a denúncia.

Moradores reclamam dos transtornos

Moradores enfrentam dificuldades diárias por causa de atos bolsonaristas em Manaus

Moradores ouvidos pela Rede Amazônica têm reclamado do som alto e da desordem promovida por manifestações golpistas em frente ao CMA. Muitos não conseguem sequer dormir.

“A gente mudou de quarto porque o nosso quarto, que era de frente, a gente teve que ir para um outro quarto. aliás, não dormi uma noite toda, porque eu sou uma pessoa que eu durmo cedo e acordo cedo. não consigo. eu tenho que ficar ouvindo o barulho de vuvuzelas, carros de som, arrancada de motocicletas e outros gritos.”, relatou o despachante Kardec Lobato.

Já o engenheiro Ricardo Kallai conta que a família está passando por vários transtornos desde o início dos protestos. Um dos filhos dele, que é autista, é o que mais sofre com as mudanças na rotina.

“Ele [o filho], por ser especial, tem uma sensibilidade maior. O ruído, essa barulheira acaba incomodando ele de muitas formas. Ele não só não consegue dormir como se sente muito incomodado quando está acordado. Então ele reclama muito. Ele fala, reclama da barulheira. Ele é um que tem ficado pouco aqui durante o dia. Ele estuda de manhã, e à tarde ele vai para a casa da avó”, comentou o engenheiro.

Outros moradores de condomínios vizinhos ao CMA afirmaram que desistiram de ficar em casa e se mudaram para hotéis. Enquanto outros, tentam driblar os transtornos provocados pelas manifestações.

No quarto de um dos apartamentos da região, os moradores colocaram colchões na janela para diminuir o barulho que vem de fora. Mesmo assim, não foi suficiente, já que ainda é possível ouvir os gritos dos manifestantes lá embaixo.

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