A Operação Descarte, deflagrada hoje (1º) pela Polícia Federal (PF) para desarticular um esquema de lavagem de dinheiro, teve origem na fiscalização de duas empresas que teriam feito transações com os doleiros Alberto Youssef e Leonardo Meireles, investigados na Operação Lava Jato.
Segundo a PF, os dois delatores confirmaram que fizeram transações com as empresas envolvidas. Participavam da rede 14 companhias que funcionavam como fachada para simular a venda de insumos que nunca foram entregues aos compradores. Os pagamentos eram feitos por meio de transferências bancárias ou boletos para dar aparência de legalidade ao negócio.
De acordo com o chefe da delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros, Victor Hugo Rodrigues Alves Ferreira, a organização criminosa se estruturou em seis células empresariais, cada uma ligada a um grupo econômico e compostas de várias empresas de fachada, registradas em nome de sócios-laranja.
“Uma das empresas que usou esse grupo para lavar dinheiro foi o Consórcio Soma, formado em 2011 para participar de uma licitação em São Paulo na área de limpeza urbana da prefeitura”, disse Ferreira. O esquema funcionou entre 2012 e 2017.
Ainda segundo Ferreira, o Consórcio Soma entrou em contato com essas empresas que passaram a emitir notas fiscais simulando a venda de mercadorias para o consórcio, como detergentes e sacos de lixo.
Dinheiro era transferido para empresas de fachada
Depois de emitida a nota fiscal dessa venda simulada, o grupo transferia o dinheiro para as contas das empresas de fachada. “Na seqüência, esse dinheiro é transferido novamente para outras empresas de fachada para dissimular a origem e o destino dos valores. E, finalmente, esses valores eram transferidos para as contas de pessoas ligadas ao esquema ou então remetidos para o exterior”, explicou.
De acordo com as investigações, desde que ganhou a licitação, o consórcio faturou R$ 100 milhões e a estimativa é que R$ 200 milhões foram lavados com o esquema.
Uma única remessa de valores para o exterior foi identificada com US$ 850 mil. O valor saiu do Brasil, passou por uma conta em Hong Kong e foi parar na Argentina em uma conta ligada a um diretor do departamento de inteligência do país. “Esse é um fato isolado e nós ainda não nos aprofundamos nisso”.
A Polícia Federal apura também o motivo pelo qual as empresas lavavam dinheiro já que o serviço de limpeza urbana não deixou de ser feito e havia meios para provar que o trabalho estava sendo realizado.
Segundo o delegado, é possível que a Soma abatesse os excessos do Imposto de Renda. “Se eles inflavam as despesas, eles pagavam menos Imposto de Renda. No mínimo aconteceu isso. Mas não está descartada a hipótese de que parte desse dinheiro que saiu do Consórcio Soma e transitou por essas dezenas de contas tenha se destinado ao pagamento de servidores públicos”, afirmou.
Notas fiscais eram forjadas
Segundo o auditor fiscal Flávio Correa Prado, de 14 empresas fornecedoras do Consórcio Soma, todas tinham forjado a emissão de notas fiscais de mercadorias que nunca existiram.
“Dessas empresas nem todas eram fantasmas puras, algumas tinham atividade operacional, mas uma delas tinha como titular um serralheiro, outra tinha o colega desse serralheiro, a esposa desse segundo era titular de outra. Os mecânicos de bicicleta que trabalhavam do lado da serralheria também eram laranjas. Todas as empresas tinham controle comum, operando de forma similar”, observou.
Vários veículos de luxo foram adquiridos pelo grupo criminoso. Todos foram registrados em nome de laranjas. Caso se confirmem as suspeitas dos policiais, a expectativa é que os investigados sejam acusados de crimes como lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação tributária e associação criminosa. Há também suspeitas de práticas dos crimes de corrupção ativa e passiva.
O Consórcio Soma informou que cumpre todas as exigências legais e que está prestando as informações solicitadas pela Polícia Federal. A prefeitura disse que não comentará o assunto.