O alto comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, afirmou que a conselheira de Estado de Myanmar, Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz em 1991, deveria “renunciar” por não ter impedido o massacre contra a minoria muçulmana rohingya e ainda ter defendido as Forças Armadas birmanesas.
A declaração foi dada à “BBC”, às vésperas da saída de Hussein do comando do Acnudh, que a partir de 1º de setembro será chefiado pela ex-presidente do Chile Michelle Bachelet. “Ela [Suu Kyi] estava na posição de fazer alguma coisa. Ela poderia ter ficado quieta ou, ainda melhor, poderia ter renunciado”, disse o alto comissário.
Segundo Hussein, não havia necessidade de a Nobel da Paz ter se comportado como “porta-voz” do Exército. “Ela poderia ter dito: ‘estou preparada para ser a líder do país, mas não sob essas condições. Obrigado, vou renunciar e voltar à prisão domiciliar”, sugeriu.
Suu Kyi passou cerca de 16 anos em prisão domiciliar durante o regime militar em Myanmar, hoje governado oficialmente pelo civil Win Myint. A Nobel da Paz é a líder “de facto” do país, mas as Forças Armadas continuam exercendo poder e influência na política birmanesa.
De acordo com um relatório do Conselho para os Direitos Humanos da ONU, os líderes militares de Myanmar tiveram “intenção genocida” ao perseguir e massacrar a minoria muçulmana rohingya, cujos membros são considerados “imigrantes” no país, que tem maioria budista.
Mais de 700 mil rohingyas tiveram de fugir de Myanmar entre agosto e dezembro de 2017, devido a uma ofensiva desproporcional do Exército após ataques realizados por rebeldes. A perseguição ocorreu sobretudo no estado de Rakhine, que faz fronteira com Bangladesh.
Suu Kyi rechaçou as conclusões do relatório da ONU e nega a existência de uma limpeza étnica em Myanmar. (ANSA)